A exportação de carros chineses tem batido recordes nos últimos tempos. Só para o Brasil aumentou em mais de 700% do ano passado pra cá. É uma verdadeira invasão! E não são só carros elétricos, como parece de imediato. Na verdade, é mais ou menos metade de elétricos e a outra metade de híbridos e à combustão comum.

Tradicionalmente a Argentina é o principal parceiro comercial na área de veículos com o Brasil, mas do ano passado pra cá a China desbancou a Argentina, superando-a com três vezes mais vendas. Hoje apenas a China representa mais da metade dos carros importados pelo Brasil.

Mas por que isso está acontecendo? Uai, preços né meu caro. Os carros chineses são ótimas oportunidades de compra, pois chegam com preços competitivos em relação às opções disponíveis aqui. Mas e por que os carros chineses estão tão baratos? É algum tipo de milagre ou coisa assim?

Se você quer realmente entender essa realidade, sente porque lá vem história!

A China é um gigante asiático tanto em dimensão territorial quanto em dimensão demográfica. Após uma longa e sangrenta guerra civil, em 1949, Mao Tsé-Tung com auxílio da União Soviética conseguiu proclamar a República Popular da China. Em outras palavras, Mao conseguiu iniciar mais um governo socialista no mundo que de fato trouxe anos de atraso para o país.

Mao implementou a campanha do "Grande Salto para Frente", você já sabe, a fnovi-língua usada nunca significa a semântica real, ou seja, o grande salto para frente na verdade se materializou em anos de retrocesso e mortes. A coletivização agrária e das indústrias resultou na incapacidade de produção para manter sequer as necessidades básicas da sociedade chinesa. Isto é fome e morte.

A tragédia do grande salto para frente faria qualquer líder ser removido do cargo e no mínimo ser preso, mas para o contexto socialista isto não é uma possibilidade. Mao na época dobrou a aposta e disse que a campanha deu errado, pois a cultura chinesa estava impregnada com vieses burgueses. Ou seja, para o avô do Ursinho Pooh, sentir fome ou não ter lenha para se aquecer no frio é um comportamento burguês. Se algum dia você sentir fome ou frio, trate de se ajoelhar e pedir desculpas.

Mas voltando ao raciocínio, a revolução cultural de Mao foi a resposta para que o grande salto para frente desse certo. E que se traduziu em mais perseguições às pessoas que discordavam de qualquer ação do ditador. Isso me lembra, deixe-me pensar, revolução francesa? Talvez alguma republiqueta banhada pelo Atlântico na América Latina?

Mas então, os principais resultados da Revolução Cultural chinesa foram o aumento das sessões de humilhações em público, expurgos, massacres e o aumento do culto à personalidade de Mao. Como efeito colateral viu-se a destruição do milenar patrimônio cultural e histórico da China, já que ter símbolos tradicionais poderiam ser considerados como algum sinal de contra-revolução. De acordo com Rudolph J. Rummel da Universidade do Havaí, este processo levou a cabo cerca de 1% da população chinesa. São números que deixariam o socialista alemão do bigode e o comunista do Stalin com inveja.

Com a morte de Mao, Deng Xiaoping se tornou o novo líder supremo da China e deu início a uma des-Maoização. Basicamente, o partido comunista chinês afrouxou as rédeas do controle, permitindo às pessoas ficarem livres para voltar à produção agrícola. Além de passar de uma economia totalmente planificada para uma economia mista.

Esta abertura da economia afastou Pequim de Moscou e os aproximou dos EUA. Esta posição bilateral ficou registrada na icônica imagem de Deng Xiaoping apertando a mão do presidente Jimmy Carter.

Com a desintegração da União Soviética em dezembro de 1991, a já acessível China, tornou-se o principal destino dos investimentos do ocidente. A ascensão econômica trazia junto o sentimento que as “Quatro Modernizações” estavam se concretizando. Ou seja, fortalecer a Agricultura, a Indústria, a Defesa e a Ciência & Tecnologia.

Os setores estratégicos eram potencializados com grandes investimentos estatais na infraestrutura. Além disso, a mão de obra oriunda da região rural do país, permitia preços mais baixos. A população rural, acostumada a jornadas extenuantes de trabalho, vendia seu trabalho por comida e abrigo, algo como uma escravidão moderna. É o fenômeno da revolução industrial se repetindo em pleno século XXI.

Todo esse contexto impulsionou o PIB chinês a um crescimento muito acima da média global. As bases foram plantadas por Deng, mas se manifestaram com o ursinho Pooh. Que partiu para a modernização do exército chinês, desvinculando o poder militar dos equipamentos soviéticos. O que conclui a terceira das “Quatro Modernizações”. Estas conquistas tornaram Xi Jinping um líder incontestável na estrutura do partidão.

Mas ainda falta a tecnologia! E, continuando com o sistema de economia mista, Xi Jinping pavimentou o sucesso da Huawei e da ZTE como empresas desenvolvedoras e exportadoras de tecnologia. Mas para viabilizar tudo isso, há uma crescente demanda por commodities.

A Agência Internacional de Energia estima que o consumo de petróleo pela China saltou 2,3 milhões de barris por dia em 1990 para 15,1 milhões em 2023. Isto representa um aumento de 556%. Fora outras commodities como minérios, grãos, carnes entre outros.

Nestas condições e com todo esse poder, Xi Jinping, como todo ditador cruel e sanguinário, tem lá seus planos megalomaníacos. Daí segue a nova rota da seda, conhecida na China como "Um cinturão, Uma rota", posteriormente renomeada para "Belt and Road Initiative". Este projeto é uma tentativa de criar um cinturão rodoviário e ferroviário em diversos países, além disso, estabelecer rotas marítimas criando portos em vários países capazes de suportar a demanda chinesa.

Já no setor imobiliário, foram afrouxadas as leis de aquisição imobiliária e a criação de bancos de investimentos. Isto permitiu a criação de cidades inteiras em questão de apenas alguns anos, que hoje são, ao menos em parte, nada mais que cidades fantasmas. Ainda no setor urbano, foi iniciado o processo de popularização de carros elétricos e, para essa nova demanda foi necessário a prospecção de minas em países da África, fora a infraestrutura necessária para a operação.

Neste ponto começa o choque com o muro da realidade, ou quando os economistas austríacos chutam a porta da sala dos estatistas com seus porretes de realidade econômica.

Hayek aborda este problema no livro "O Uso do Conhecimento na Sociedade". O primeiro problema é a limitação do planejamento central que causa ineficiência na cadeia de produção. Há diversas denúncias de corrupção da construção da nova rota da seda. Pense um minuto como um burocrata parasita estatal. Este porto ou estrada ficará pronto daqui a anos, até lá serei transferido ou me aposentarei e, se eu pegar uma lasquinha aqui ninguém perceberá. Você pode pensar que apenas uma pessoa não pode prejudicar um projeto gigante, mas há milhares desses burocratas, instalados em diferentes níveis da burocracia estatal chinesa. O líder do projeto que está confortavelmente em Pequim acha que está tudo dando certo, enquanto a sanguessuga vai ficando maior que o boi.

No exército não é diferente, contando com mais de 2 milhões de combatentes, você acha que algum membro do partido tem capacidade de fiscalizar tanta gente? A ineficiência estatal chega ao cúmulo dos militares roubarem combustível de foguete. Ademais, a construção do porta-aviões Fujian custou entre 5 a 8 bilhões de dólares, com um custo de manutenção variando de 500 milhões a 1 bilhão de dólares por ano. Salvo todas as críticas da efetividade do Fujian, imagine o quanto de desvios podem ter ocorrido só neste navio?

A ordem espontânea é o segundo problema apontado por Hayek, este problema ocorre novamente na nova rota da seda, mas é escancarada pela construção civil. As famosas cidades fantasmas chinesas são o ápice da incapacidade estatal, elas foram construídas por construtoras ligadas diretamente com o partido comunista chinês. Estas construtoras não estavam interessadas em criar prédios funcionais, queriam gastar aço e concreto para trazer legitimidade aos empreendimentos, onde o fiscal não se importava com o objetivo da construção, mas só fazia o papel burocrático para liberar o pagamento pelos bancos.

Os bancos foram pelo mesmo caminho, em uma economia sem oportunidade de investimento, estas instituições empurraram para a população chinesa a promessa de rendimentos acima da média. O que ocorreu foi um tremendo esquema Ponzi! Novas unidades não eram vendidas, que fez com que as atuais obras não fossem entregues, que fez com que as pessoas parassem de pagar os financiamentos, que tem levados os bancos à quebradeira. E calma, isso ainda está só começando.

Essa cadeia de alavancagem fez com que pequenas construtoras quebrarem, até chegar na Evergrande, uma das maiores empresas do setor imobiliário. A falência dessa construtora ligou o sinal vermelho para o mundo. Assim, quem pode começou a retirar seus investimentos da China.

Então, depois de décadas de crescimento infinito, economia a base de LSD, controle a la 1984 e propaganda soviética, a China em sua corrida mercantilista, acreditando que o crescimento seria eterno, se deparou com a estagnação econômica do planejamento planificado. Xi Jinping não quer que as indústrias parem, pois isto agravaria a recessão. Logo, a China está exportando tudo a preço de custo, pois é melhor do que deixar no estoque. É o que se conhece como dumping.

A princípio não há nada de errado com a prática de dumping, mas ela só pode ser praticada em um curto espaço de tempo e por grandes conglomerados, matando assim pequenos produtores.

O resultado que vemos é uma enxurrada de aço chinês tal que, faz parecer que a indústria brasola tem uma produção a base de carvão e fole. O mesmo ocorre com os carros elétricos. Há centenas de milhares de unidades de carros elétricos sendo produzidos na China, mas a demanda do público ocidental não está assim tão proporcional às expectativas de Pequim.

Em resumo, Xi Jinping é mais um com complexo de deus comunista, um iluminado e predestinado a criar o real “grande salto para frente” por meio das “Quatro Modernizações”, mas o que está conquistando é o mesmo erro de seu mentor Mao Tse Tung. Ah que falta faz economia austríaca a esse pessoal comunista. Quantas mortes poderiam ser evitadas? Quanta fome, sofrimento, erro e enganação?

Na verdade, vislumbra-se apenas duas situações onde o líder de uma nação não a oprime. A primeira é quando não há essa possibilidade, quando se alinham incentivos socioeconômicos, quando a população assim deseja e possui efetiva capacidade de defesa contra o estado, seja monetária ou bélica. A outra é quando o próprio líder tem um freio moral que o impede de coerção contra seu povo.

De nossa parte, a recomendação é fortalecer a si próprio, sua família e comunidade, para ao menos fazer diminuir a capacidade de subjugação estatal. E, sempre que possível, escolher o menos pior entre os políticos. De resto, estamos apenas analisando a situação e repetindo o aviso que Mises fez há mais de 100 anos atrás: planejamento central da economia não tem como dar certo.

E para continuar nesse assunto, veja agora o vídeo: “Economia CHINESA em COLAPSO pode impactar o MUNDO INTEIRO”, o link segue na descrição.

Referências:

Economia CHINESA em COLAPSO pode impactar o MUNDO INTEIRO
https://www.youtube.com/watch?v=3dStv-LePRk

O grande salto para frente:
https://g1.globo.com/pop-arte/blog/maquina-de-escrever/post/mao-e-o-grande-salto-para-fome-um-catalogo-de-horrores.html

Livro O Uso do Conhecimento na Sociedade de Hayek:
https://maisliberdade.pt/site/assets/files/2941/hayek_-_o_uso_do_conhecimento_na_sociedade.pdf

Foguetes chineses com água:
https://executivedigest.sapo.pt/noticias/misseis-cheios-de-agua-e-tampas-inadequadas-escandalo-de-corrupcao-nas-forcas-militares-da-china-obriga-xi-jinping-a-purga-entre-os-responsaveis/

Críticas ao porta-aviões Fujian:
https://www.youtube.com/watch?v=0ke6PioIaCA