Se isso for mesmo verdade, quanto será que esse pessoal cobra pra fazer o mesmo por aqui?
Isso mesmo que você viu no título... Mesmo após a derrota de Maduro nas eleições venezuelanas, realizadas em acordo com os Estados Unidos em troca da retirada de algumas sanções, o ditador descumpriu sua parte do acordo de transição para o novo governo democraticamente eleito e falsificou os resultados eleitorais, dando vitória a si mesmo (para a surpresa de zero pessoas).
Muitos da oposição e do próprio governo venezuelano veem a situação com medo, tanto das repressões e prisões políticas que Maduro realizou contra manifestantes quanto dos funcionários do governo que foram demitidos por terem votado em Edmundo González. Os que ainda restam têm medo de se expressar ou de sofrerem consequências por obedecer às ordens de Maduro, caso o regime caia em algum momento.
Enquanto isso, o mundo observa a situação, questionando-se sobre como isso irá se desenrolar e se existe alguma possibilidade real de derrubar o regime pela força, já que tudo indica que o ditador não sairá do poder sem coerção. Alguns até cogitaram uma intervenção americana rápida na Venezuela para garantir a transição de poder ao novo governo eleito e isso nós já discutimos aqui no canal, no vídeo "E se os ESTADOS UNIDOS invadissem a VENEZUELA para RESTAURAR a DEMOCRACIA", cujo link estará aqui na descrição para você assistir completo.
Todavia algo inesperado surgiu há alguns dias, quando o dono do grupo mercenário Blackwater, Erik Prince, fez um anúncio exigindo um prazo de 5 dias para que Maduro reconhecesse sua derrota nas eleições e iniciasse uma transição para um novo governo democrático. Caso contrário, providências seriam tomadas.
O prazo passou, e isso se concretizou na forma da campanha "Ya Casi Venezuela", uma arrecadação de 10 milhões de dólares para comprar armas, equipamentos e munições com o objetivo de realizar uma operação militar para derrubar o governo de Maduro e restaurar a "ordem e decência" no país. Até o momento da escrita deste artigo, já foram arrecadados mais de 830 mil dólares. O governo americano chegou a barrar, por questões legais, um grande estoque de armas que seria doado ao grupo.
É claro que surge a dúvida se isso é de fato real ou apenas mais um golpe. Afinal, quem diabos é a Blackwater? Embora não seja muito famosa no Brasil, a Blackwater é uma empresa militar privada, fundada em 1997 por Erik Prince, ex-oficial da marinha americana. O grupo ficou conhecido por fornecer segurança e serviços militares ao governo dos EUA por meio de contratos, participando de batalhas na Guerra do Iraque e em operações especiais na Síria.
Você pode achar que não haveria benefício para eles com toda essa campanha e uma ação militar privada para derrubar Maduro, mas eu lhe digo que há. Uma operação desse tamanho para "restaurar a ordem no país", em um momento em que o mundo discute a questão venezuelana, traria grande visibilidade para o grupo, fazendo-o crescer significativamente, tal como aconteceu com o Grupo Wagner, que continuou expandindo seu poder com a Guerra da Ucrânia até se tornar uma ameaça ao próprio governo de Putin.
O valor dessa campanha pode parecer alto, mas é preciso considerar que derrubar um ditador não seria uma tarefa barata. Além do planejamento, o grupo precisaria se infiltrar em território inimigo, enfrentar riscos e, no pior dos casos, enfrentar uma guerra contra um exército completo controlado pelo ditador. E isso sem contar o impacto político que essa ação teria no continente.
Como mencionamos no vídeo sobre a intervenção americana na Venezuela, caso os EUA ou algum grupo mercenário americano derrubasse Nicolás Maduro, isso levaria, a longo prazo, ao afastamento de outros países da América Latina em relação aos EUA, temendo que seus próprios governos fossem derrubados pela já existente fama americana de intervenções estrangeiras. "Se meu vizinho foi derrubado, quem garante que eu não serei o próximo?"
Há vários exemplos históricos de mercenários privados contratados para atuar como exércitos de cidades, como na Grécia Antiga, onde os "hoplitas mercenários" eram frequentemente contratados por cidades-estado como Esparta e Atenas para reforçar exércitos locais. O Egito faraônico utilizava mercenários núbios e líbios em suas forças armadas, enquanto o Império Persa empregava soldados gregos para defender suas fronteiras.
Outro exemplo que podemos citar é o de Giuseppe Garibaldi, general e guerrilheiro que participou de várias guerras e revoluções ao redor do mundo, como a Guerra Civil Americana e, mais notoriamente, a unificação italiana. Na época, já havia movimentos a favor da unificação da Itália, e a região do norte buscava integração com os Estados Papais, que controlavam Roma, e com o Reino das Duas Sicílias, que controlava o sul da península.
Garibaldi reuniu um pequeno exército particular de 1.089 homens, desembarcou na Sicília e marchou até Nápoles, derrubando a monarquia local e unificando-se posteriormente com o norte, formando o Reino da Itália, cujo impacto no cenário europeu foi significativo nas décadas seguintes.
Da mesma forma, caso a Blackwater tivesse sucesso, isso poderia trazer mudanças significativas para as próximas décadas, aumentando o destaque da participação de exércitos privados em guerras. Isso poderia até levar, em algum momento, à transferência desse setor para empresas privadas, com o estado abdicando de um exército nacional por razões de eficiência.
Em uma sociedade libertária, a ideia é que indivíduos ou empresas tenham o direito de contratar serviços, incluindo os de defesa, no mercado, sem depender de um exército nacional centralizado. Mercenários, nesse contexto, seriam uma forma de defesa privada voluntariamente contratada, alinhada com os princípios de livre mercado e autossuficiência. Exércitos privados poderiam surgir como alternativas às forças militares públicas, oferecendo serviços de segurança sob contratos privados, gerando competição e, teoricamente, maior eficiência.
Murray Rothbard, autor pai do anarcocaputalismo, defendeu que a segurança e a defesa poderiam ser fornecidas de maneira mais eficiente pelo mercado privado, sem a necessidade de um estado central. Pela lógica de livre mercado, exércitos nacionais e forças policiais estatais são inerentemente coercivos, pois obrigam as pessoas a pagarem por esses serviços por meio de impostos, independente de sua vontade. Em uma sociedade verdadeiramente libertária, a segurança seria organizada por empresas privadas, contratadas voluntariamente por indivíduos ou comunidades, resultando em uma oferta mais eficiente e ética de proteção.
Para Rothbard, os mercenários ou empresas de segurança privadas não seriam apenas moralmente aceitáveis, mas uma parte essencial de uma ordem social baseada no livre mercado. Ele acreditava que, em um sistema de livre concorrência, essas empresas competiriam para oferecer os melhores serviços de segurança, sejam eles de proteção pessoal, comunitária ou de defesa territorial. A eficiência viria da ausência de monopólio estatal sobre a força, permitindo que os consumidores escolhessem entre múltiplas ofertas de defesa, assim como escolhem outros serviços no mercado.
Muitos tentam refutar essa ideia argumentando que exércitos privados trairiam seus contratantes caso o inimigo pagasse mais. Porém, isso pode ser facilmente rebatido, já que, além da questão de princípios e lados ideológicos que algumas milícias assumem (como o Grupo Wagner com a Rússia e a Blackwater com os EUA), seguem também a lógica de um tribunal privado. Ninguém contrataria um tribunal corrupto ou um exército desleal, pois não serviriam para a defesa.
De qualquer forma, caso você esteja convencido e queira doar, acesse o site "yacasivenezuela.com" e clique em "Doar agora". Não há opção de pix, mas você pode doar em moeda estatal ou criptomoedas. Ressaltamos que tudo isso pode ser apenas um grande golpe, e eles podem não fazer nada mesmo se atingirem a meta. E, mesmo se fizerem, caso a meta não seja atingida, podem simplesmente ficar com o dinheiro já arrecadado sem devolver ou tomar qualquer ação relacionada à Venezuela.
Maduro parece querer repetir o exemplo de tantos outros pela história e prefere morrer a aceitar a derrota e sair pacificamente do poder. O uso da violência, infelizmente, parece necessário contra uma entidade que constantemente oprime pessoas e suas liberdades individuais, mas só podemos tentar ajudar e torcer por um futuro melhor para nossos hermanos e toda a américa latina que fazemos parte.
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