O General que escreveu a GEOPOLÍTICA BRASILEIRA !

Vejamos as ideias de um general brasileiro que atuou durante o regime militar. O que ele esperava para o Brasil?

Neste vídeo vamos falar de um grande intelectual brasileiro, um general que tinha uma visão para o futuro do Brasil, não do tipo que gera planos mirabolantes, mas baseada em sólida ciência geopolítica, profundo conhecimento do território nacional e em vasta experiência de vida.

Se trata do General Golbery do Couto e Silva! Nascido no Rio Grande do Sul em 1911, ele foi general e grande geopolítico brasileiro, sendo um dos principais teóricos da Doutrina de Segurança Nacional nos anos 50 e ajudando a fundar o Serviço Nacional de Informações, o SNI. Uma figura controversa ou não, no final de sua vida apoiou o retorno gradual para a democracia, tendo sido chamado de entreguista pelos próprios colegas militares em 1974.

Mas o importante para nós é que em 1966, o general publica a obra "Geopolítica do Brasil" descrevendo sobre a posição que o Brasil poderia ter no cenário da guerra fria e quem seriam seus “aliados naturais”, conforme as relações e dependências comerciais e culturais da época.

Na visão dele, mesmo com a disputa entre os blocos comunista e capitalista, o mundo estava na prática lutando cada vez menos por ideologias e mais com base na realidade, indo pelo que era de fato possível. “A realidade se sobrepõe à ideologia”, diria com a ênfase de quem vive totalmente no mundo real, mas também influenciado por ideais positivistas.

A revolução cubana havia acontecido no fim dos anos 50 e provou que era possível uma revolução guerrilheira instaurar um regime socialista na América Latina e isso fez com que a população tivesse medo das guerrilhas comunistas, mas, por outro lado, ainda mantendo um forte sentimento antiamericano, já fruto da propaganda comunista no país.

Lula e sua trupe eram somente sindicalistas desconhecidos, que posteriormente ganharam uma grana dos militares para denunciar seus colegas. O líder comunista da época era Carlos Prestes, junto de seu assecla mais radical: João Amazonas.

O presidente era João Goulart, que fora acusado de ser comunista pelas suas políticas socialistas e seu alinhamento com a União Soviética e China. A instabilidade política da época era grande e o próprio Estados Unidos manteve pressão sob terras tupiniquins com envio de navios de guerra, como um recado claro em caso de um possível golpe.

Com protestos pedindo pela intervenção militar, os militares dissolveram o congresso e tomaram o poder com a promessa de reorganizar o país que estava uma bagunça. Ué, achei que sempre tivesse sido, mas enfim. Com esse golpe, os militares prometeram tomar ações emergenciais e retornar ao regime democrático em apenas 4 anos. Mas como diria o ditado: “nada dura mais do que um programa temporário do governo”, esses inocentes 4 anos se transformaram em 21.

De início, os militares buscaram fazer reformas e remodelar a nação para os próximos anos, como fizeram tantas outras ditaduras militares na América Latina. Porém, infelizmente a maioria deles era extremamente estatista e positivista, o que futuramente só criaria uma péssima herança ao Brasil. Os programas governamentais eram cada vez mais centralizados em Brasília, o estado crescia vertiginosamente e, na mesma medida, crescia a dívida que os milicos tomavam para criar o efeito do “milagre econômico”, típica coisa de Keynesiano. Não há milagre nenhum e a dívida tem que ser paga uma hora ou outra! Nessa época a única exceção de ditadura militar que adotou medidas de livre mercado foi a de Augusto Pinochet no Chile. Apesar de uma economia um pouco mais liberal, o sistema era autoritário e viria a assassinar críticos e dissidentes.

Nessa época a Guerra Fria estava rolando à solta pelo mundo. Tensões meio que combinadas entre o bloco capitalista, liderado pela OTAN ou Estados Unidos e, pelo bloco comunista, liderado pelo Pacto de Varsóvia, ou pela União Soviética. Apesar da aparente polarização entre esses blocos inconciliáveis, mais uma vez vemos como entra em jogo a estratégia das tesouras. Americanos tinham empresas e comércio com a União Soviética. Vários presidentes americanos eram amiguinhos de Stalin e sua gangue. Banqueiros americanos faziam negócios extremamente lucrativos com o bloco comunista. Mas essa era a desculpa perfeita para, tanto de um lado, como de outro, fazer crescer o tamanho do estado.

Sendo o Brasil o maior país e a maior economia da América do Sul, com extenso domínio do atlântico sul, e amplas relações pacíficas com seus vizinhos, com certeza seria alvo de cobiça dos dois lados, assim como já tinha sido na Segunda Grande Guerra.

O posicionamento geográfico do Brasil encobrindo com sua costa uma grande área do atlântico sul, até o mar do caribe, daria uma vantagem no controle de rotas comerciais que quisessem contornar a sul pela África ou pela América. Foi toda essa situação interna e externa ao Brasil que inspirou o General Golbery em seu livro.

Entre os principais pontos, Golbery defende que o Brasil deveria decidir qual seria seu foco na concentração de forças. Se focaria em sua marinha com projeção para o exterior do continente, assim facilitando o comércio e ações militares em além mar, seguindo assim as ideias de Mahan, ou se concentraria nas forças terrenas e na expansão de influência no próprio continente sul americano, seguindo assim as ideias de Mackinder.

Nesse contexto, ele observou que nações mais fracas estavam ficando sujeitas a países maiores com suas ditaduras, guerrilhas e golpes de estado, apoiados tanto pelos Estados Unidos quanto pela União Soviética e se tornando praticamente vassalo de um desses lados. Golbery desejava então uma posição de soberania para o Brasil, podendo manter relações comerciais com ambos os blocos, mas sem se comprometer com nenhum deles, operando assim na melhor situação possível, na qual se ganha poder de barganha.

Segundo ele, a guerra nos últimos séculos havia deixado de ser algo isolado e regional para se tornar algo que abrangia todas as esferas da sociedade. É o que se chama de guerra total e, que na verdade, é resultado do agigantamento do estado moderno que passa a ter poder total sobre a sociedade.
E hoje se vê claramente esse efeito com a guerra da Ucrânia. Como uma guerra no leste da Europa acaba impactando a economia na exportação de grãos e abastecimento de gás, impacta o social com as pessoas discutindo sobre ela e até impacta a política de outros países como nos Estados Unidos, com o público comum discutindo sobre o quanto os americanos deveriam interferir na guerra.

Golbery também é um entusiasta de alianças naturais que envolvem áreas vizinhas e próximas, que poderiam ser integradas do Brasil pelo comércio. Assim, ele defendia que o Brasil estreitasse laços com todos os países da América do Sul, com alguns da América central e até com alguns países da costa africana. Essas regiões teriam fácil acesso ao Brasil e mantinham comércio e relações com ele, sendo seus “aliados naturais”, por nunca quererem guerra entre si e por buscar o melhor para o outro com base no comércio.

Já os países de fora dessa zona, como os Estados Unidos e toda a Eurásia, ele considerava como potenciais ameaças, que não tem relações profundas com o Brasil e que só se interessariam no caso de quererem influenciar na política interna. No fundo Golbery entende que relações comerciais geram paz e que o Brasil deveria primar por essa fonte estável de poder.

Embora hoje o Brasil tenha a China e Estados Unidos como maiores parceiros comerciais, nos lembramos da ininterrupta tentativa europeia de dificultar o comércio com o Mercosul a fim de proteger elites locais, que já assumiram que não podem competir com o Brasil na questão da agropecuária.

A visão libertária não liga muito para ações de estados nacionais, pois considera esses entes ilegítimos e potencialmente agressores. No entanto, Golbery mesmo atuando dentro do paradigma de estado-nação, foi uma importante voz no sentido do fortalecimento do comércio e da paz.

Infelizmente Golbery, que era tão contra ideologias, atuou pensando em termos ideais com relação à geopolítica do Brasil. É fácil perceber que não existem “aliados naturais” entre estados coercitivos. No fundo são todos máfias impostas pela violência, com o objetivo de se expandir cada vez mais. Mesmo que haja acordos bilaterais, estes podem ser quebrados a qualquer momento, a depender do humor de quem comanda o país. Um bom exemplo histórico foram as guerras do século 18, quando países como França e Império Austríaco passaram de aliados para inimigos e, em seguida, para aliados novamente, para no fim se tornarem inimigos de vez. Sendo que o mesmo ainda se repetiu durante as guerras Napoleônicos algumas décadas depois.

Que confiança tem uma instituição que não cumpre os próprios acordos? Ou uma entidade que não faz o que promete por pura conveniência? Fazer algo por dependência ou conveniência não são alianças naturais. Mas entendemos que Golbery propõe o melhor que pode ser feito considerando o paradigma de estado-nação atual em que vivemos

Além de tudo isso, o general também destacou os maiores dilemas do Brasil no período regido pelos militares. O de aumentar a integração e circulação interna do país, criando infraestrutura viária, férrea e hidroviária. Infelizmente foi justamente a visão de planejamento central que impediu a expansão da infraestrutura por aqui. A amazônia continua desconectada do resto do país, o nordeste continua castigado pelas secas e tudo roda de caminhão em péssimas estradas. Incrível como políticos não conseguem resolver problemas históricos e não permitem que a iniciativa privada o faça.

Algumas de suas preocupações também eram interessantes mas não se concretizaram infelizmente, como melhorar a economia do Brasil, buscar melhores relações com a América do Sul, garantir mais liberdade regional e autonomia local, desejando ao mesmo tempo consolidar a identidade brasileira. Golbery entendia que o Brasil sendo um país tão diverso, deveria obedecer às culturas regionais, talvez numa influência de Darcy Ribeiro, mas com certeza devido à experiência de quem rodou o país inteiro.
A centralização não é o maior problema das sociedades modernas, mas pode se dizer que dela derivam os maiores males. A centralização acaba com a livre iniciativa e cria monopólios, que congelam o mercado e favorecem oligarquias locais, que se formam para repartir o butim, encarecendo e escasseando produtos e serviços oferecidos. A centralização atua na contramão do livre mercado e obviamente leva ao controle e à pobreza.

Alguns pontos na obra de Golbery são talvez discutíveis, como por exemplo, ele aponta como o heartland da América do Sul a região do chaco na Bolívia. Mas essa é uma constatação meramente geométrica, já que o chaco boliviano é o centro geométrico da América do Sul. Bem, na verdade o centro geodésico da América do Sul é a região de Cuiabá, bem ali na linda Chapada dos Guimarães. A não ser que a teoria de Mackinder defenda apenas a variável geométrica e, sendo apenas isso que ele faz, a torna incompleta. Como geometrias não são geografias, então como complemento a essa teoria de Golbery, propomos o planalto central como o heartland da América do Sul, já que a partir dele se pode acessar as duas maiores bacias hidrográficas do continente: a do Amazonas e a do Prata. A parte oriental do planalto central é controlada pelo Brasil, enquanto a parte ocidental é controlada pela Bolívia.
Infelizmente nem Brasil, muito menos a Bolívia, faz bom uso dessa dádiva da natureza. Milhares de quilômetros de rios navegáveis mas nada para transportar. E por que esses países não tem nada para transportar nessas hidrovias? Por que o planejamento central, o dirigismo, as oligarquias monopolistas e o ódio contra a parte produtiva da sociedade nunca deixaram e quer saber? Nunca deixarão!

Para finalizar, Golbery obviamente não dispunha de uma visão de economia austríaca, mas foi um dos poucos no poder central que tinha um bom preparo acadêmico e que buscava um planejamento baseado em teorias de geopolítica. É de fazer corar os milicos melancias e os que só pensam em tomar vantagens na aposentadoria. Num lugar onde os intelectuais não pensam, os professores não ensinam, os trabalhadores vivem no sindicato e os planejadores copiam, Golbery se destaca, mas também não precisava de muito…

Para saber qual geopolítica realmente importa, veja agora o vídeo: “A geopolítica do indivíduo”, cujo link segue logo abaixo na descrição.

Referências:

“A geopolítica do indivíduo”
https://www.youtube.com/watch?v=wD9SKaw_6Cs

https://pt.wikipedia.org/wiki/Golbery_do_Couto_e_Silva
https://www.amazon.com.br/Geopolítica-Brasil-Golbery-Couto-Silva/dp/B091G5M6LK