29 Mar. 2024
Sugerido: JJ Liber
Escritor: QuintEssência
Revisor: Lord Caligula
Narrador: Lord Caligula
Produtor: Leandro Brito

Plano Real completa 30 ANOS, com bons resultados econômicos, mas muita DESVALORIZAÇÃO

O real, a moeda corrente do Brasil, não é mais nenhuma criança - já é, na verdade, um jovem adulto, com seus quase 30 anos de idade. O Plano Real, por sua vez ‒ a reforma monetária que deu origem a essa moeda ‒ já atingiu a marca das 3 décadas de vida, no dia 1º de março. A moeda de mesmo nome só começou a circular mesmo no dia 1º de julho daquele ano da graça de 1994. Comparado com a idade de um ser humano, o real parece ser mesmo jovem; mas, dado o histórico monetário do Brasil, talvez seja melhor comparar com a idade de um cachorro ‒ ou seja, o real já estaria fazendo hora extra por aqui. De fato, a história da moeda no Brasil ‒ principalmente durante a República ‒ é mesmo um show de horrores à parte.

O Brasil já teve 9 trocas de padrão monetário, adotando 7 moedas diferentes nesse percurso. A mais longeva dessas moedas, de longe, foram os réis ‒ que, se levarmos em conta o período em que o Brasil foi colônia de Portugal, tiveram uma sobrevida de 4 séculos. Em segundo lugar, vem o real. Sim, com seus meros 30 anos de existência, a moeda que nasceu de um plano econômico concebido por um grupo recrutado por Fernando Henrique Cardoso, é, de longe, a melhor coisa que as terras tupiniquins já tiveram, em matéria de moeda estatal.

Ao longo dos seus anos de República, o Brasil padeceu com uma série de palhaçadas monetárias que duraram apenas um punhado de anos, como o Cruzado Novo, entre 1967 e 1970, o retorno do Cruzado, entre 1986 e 1989, e um novo Cruzado Novo, de 1989 a 1990. O Brasil já precisou cortar 3 zeros da moeda em seis oportunidades diferentes. Apenas tente mensurar o quanto de desvalorização isso representa! Se considerarmos o valor dos réis quando de sua extinção, em 1942, o índice de inflação é brutal: 1 real de hoje equivale a quase 3 sextilhões de réis daquela época!

Foi por conta disso mesmo que o Plano Real foi concebido: para acabar com o problema da inflação galopante, que castigava o povo brasileiro por anos a fio. O cenário de hiperinflação é um verdadeiro veneno para a economia. Ele distorce a lucratividade das empresas, impede o planejamento de longo prazo dos empreendedores e retira dinheiro dos mais pobres para entregar para aqueles que possuem maior capacidade de se proteger da desvalorização da moeda. Sim, uma quantidade incalculável de riqueza foi expropriada por meio da inflação, para ser concentrada em determinados setores mais privilegiados.

O Plano Real, ao contrário de seus antecessores, não se resumiu a cortar zeros e trocar o nome da moeda ‒ algo que só faz adiar a solução, aumentando o problema de maneira exponencial. Originalmente, esse plano funcionou como uma dolarização mascarada, para evitar machucar os sentimentos nacionalistas. É tipo o que Milei quer fazer na Argentina, na atualidade.

Mas a coisa foi além: o governo promoveu um corte de gastos na ordem de US$ 22 bilhões, para zerar o déficit fiscal. Também foi promovido um aumento de impostos, seguido de venda de estatais, a fim de aumentar as receitas. O plano também previa a indexação da economia (ou seja, dos preços) ao dólar, bem como a abertura da economia, com redução de tarifas de importação, para conter a escalada de preços; e, também, o aumento das reservas internacionais em dólar. Acredite ou não, este último ponto foi o mais importante de todos, sendo responsável por garantir que, nos primeiros meses, 1 real chegasse a valer mais do que 1 unidade da moeda americana.

Em 1º de julho de 1994, a nova moeda enfim começou a circular. No mês anterior à adoção do real, a inflação foi de 47,43%. Naquele mês de julho, a inflação foi de 6,84%, com este índice caindo substancialmente nos meses seguintes. Em 1998, a inflação anual chegaria a míseros 1,65%. Bons tempos, não é mesmo? É intuitivo imaginar o quão benéfico esse cenário foi para a economia, especialmente para os mais pobres. Mas quem antes mamava nas tetas da hiperinflação, acabou se ferrando legal nessa história.

Uma enorme quantidade de bancos quebrou logo na seqüência da adoção do Plano Real. Essas instituições viviam da inflação, que, na prática, transferia recursos dos clientes para os bancos. Entre 1994 e 1999, nada menos que 191 instituições financeiras foram para o saco, sofrendo algum tipo de intervenção do Banco Central. A maior parte delas simplesmente deixou de existir. Banco Econômico, Banco Nacional e Bamerindus são os nomes mais conhecidos. É aquela história: a omelete do Plano Real exigiu a quebra dos ovos do setor bancário ‒ e com justiça. Essa turma surfou na hiperinflação por muito tempo.

O que vimos na seqüência foi uma estabilidade monetária que não teve precedentes na república brasileira. Não é exagero algum dizer, portanto, que o Plano Real foi o maior programa social da história do Brasil. A inflação vinha corroendo o poder aquisitivo dos pobres brasileiros de maneira absurda. Não por acaso, períodos de grande inflação coincidem com o aumento da pobreza. Já períodos em que um país desfruta de uma moeda mais forte coincidem com o enriquecimento geral da população. Após o lançamento do Plano Real, por exemplo, a pobreza no Brasil caiu 10 pontos percentuais praticamente da noite para o dia.

Acontece, porém, que mesmo o real, com todas as suas vantagens em relação a seus antecessores hiperinflacionários, também está perdendo seu valor a olhos vistos. Desde seu lançamento, o real acumula um índice de inflação de quase 700%. Ou seja: R$ 1 de hoje vale cerca de R$ 0,12 de 1994. Portanto, se você tivesse guardado suas primeiras notas de real embaixo da cama, lá em 1994, elas hoje estariam pesadamente desvalorizadas.

Na verdade, a coisa começou mesmo a dar errado a partir da adoção do tripé macroeconômico, lá em 1999. Sim, em comparação com o desarranjo que foi a Nova Matriz Econômica da dupla Dilma e Mantega, o tripé do FHC parece ser uma coisa maravilhosa. Mas acredite: ele era muito inferior ao arranjo inicial do Plano Real. Em outras palavras: os tempos áureos do Plano Real ‒ e sim, usamos esse termo aqui com duplo sentido ‒ duraram pouco tempo. Pouco mesmo.

O grande problema dessa história é, como sempre, o aumento da base monetária. O Brasil saiu de um montante de R$ 100 bilhões, em julho de 1994, para quase R$ 6 trilhões, no presente. Sim, a base monetária do real foi multiplicada por 60 vezes de lá pra cá! Não dá pra dizer, portanto, que essa será a moeda definitiva do Brasil; principalmente quando temos um governo tão comprometido em expandir a base monetária, por meio de um crescente endividamento, como o governo Lula. Nesse cenário, uma inflação crescente e uma moeda mais fraca se tornam eventos inevitáveis.

É claro que essa é uma característica que não se restringe apenas ao Brasil; ela é comum a todos os países do mundo. De maneira geral, todos os governos estão expandindo sua base monetária, inclusive os Estados Unidos. E se você quer entender por que todos os governos, inevitavelmente, irão destruir sua moeda, recomendamos a leitura do livro “O que o governo fez com o nosso dinheiro?”, de Murray Rothbard. Em determinado ponto da obra, Rothbard afirma: “a inflação monetária é um meio poderoso e sutil para o governo adquirir recursos do público, uma forma de tributação indolor e bem mais perigosa”. Mais claro do que isso, impossível.

Mas, se todas as moedas estatais estão fadadas ao colapso, o que fazer? Como proteger nosso dinheiro da desvalorização inevitável, promovida pelo estado? Bem, há um plano monetário relativamente novo, mas muito promissor, e superior ao Plano Real. É claro que estamos falando do Bitcoin. Lançado em 2008, ele ainda é um rapaz jovem; mas, ainda assim, o Bitcoin carrega consigo características muito superiores a qualquer moeda estatal.

Como dissemos anteriormente, se você guardou seus reais embaixo da cama, em 1994, eles valem, hoje, apenas uma fração do que valiam naquela época. Agora, se você comprou 100 ou 200 bitcoins, quando de seu primeiro registro formal de preço, em meados de 2010, por um punhado de reais, e guardou esses bitcoins quietinhos, em algum canto seguro ‒ bem, você é, hoje, um grande milionário. Meus parabéns! Pois é: enquanto todos os planos monetários estatais são criados para depreciar o valor da moeda, por meio do imposto inflacionário, o Bitcoin confere ao seu possuidor uma maneira real de salvar seu patrimônio do confisco estatal.

O Plano Real, de fato, conseguiu fazer o que parecia impossível, ainda que a duras penas: a hiperinflação foi extinta, os preços foram estabilizados e a pobreza foi drasticamente reduzida. Veja, portanto, que essa iniciativa estatal só foi necessária porque, num primeiro momento, o próprio estado destruiu a economia do Brasil. Contudo, mesmo esse, que é o melhor plano monetário que já foi concebido neste país, está com seus dias contados. Sua rápida desvalorização não deixa dúvidas a esse respeito.

A coisa é muito simples de entender: criar um plano monetário realmente sólido dá muito trabalho, contraria muitos interesses e exige um grande capital político para que o projeto seja levado adiante. Por outro lado, é muito mais fácil destruir esse plano monetário, porque essa ação agrada ao mundo político e àqueles que vivem de renda. Ou seja: a desvalorização da moeda é inevitável. Enquanto o governo for o dono do seu dinheiro, meu amigo, seu patrimônio estará fadado à ruína. E nem mesmo o melhor dos planos monetários estatais pode mudar esse cenário. A solução para esse problema não é criar um novo plano estatal; mas, sim, tirar o dinheiro das mãos do estado.

Referências:

Quais moedas o Brasil já teve?: https://www.grupoethimos.com.br/moedas-do-brasil/ Quantos zeros já foram cortados?: https://livecoins.com.br/quantos-zeros-o-brasil-ja-cortou-de-suas-moedas/ Evolução da pobreza no Brasil em relação às moedas: https://files.dohms.com.br/idpsite/arquivos/material-de-apoio/texto-04--prof.-marcelo-proni--pobreza-no-brasil-a-evoluc%C3%A3o-de-longo-prazo.pdf PIB do Zimbábue: https://www.macrotrends.net/global-metrics/countries/ZWE/zimbabwe/gdp-gross-domestic-product Falência de Bancos entre 1994 e 1997: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc23059907.htm Gráfico M2 do Real: https://pt.tradingeconomics.com/brazil/money-supply-m2 IPCA do Real: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/02/passagem-aerea-e-gas-lideram-ranking-de-inflacao-desde-1994-veja-mudancas-do-ipca-no-plano-real.shtml Uma breve história do Plano Real (Instituto Mises): https://mises.org.br/artigos/1130/uma-breve-historia-do-plano-real Alta do Bitcoin: https://exame.com/future-of-money/de-us-003-a-us-26-000-ha-13-anos-bitcoin-tinha-primeiro-registro-oficial-de-preco/ FHC anuncia o Plano Real: https://www.youtube.com/watch?v=elyZhvXWuGU

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