Quem foi Michel Foucault e por que a esquerda ama ele?

É impossível cursar uma faculdade de ciências humanas aqui no Brasil e não ler algo de Michel Foucault. Afinal, por que a esquerda gosta tanto dele?

Antes de dizer que Foucault era um degenerado; que seus pensamentos apenas refletiam de maneira superficial suas próprias crenças, sem nenhuma aderência com a realidade; que ele era um psicopata sem nenhuma empatia para com outras pessoas, que chamava ideologia de ciência e que isso o fazia um herdeiro a altura dos piores comunistas; vamos falar sobre aspectos de sua vida e obra.
Michel Foucault é, sem sombra de dúvidas, um intelectual muito famoso entre comunistas e seus asseclas progressistas. Suas obras sempre são usadas em cursos de ciências humanas em praticamente todas as universidades no Ocidente. Afinal, se tratou de um acadêmico que fez inúmeras críticas ao sistema de poder, do dito "estado burguês", e em seu discurso sempre esteve presente a visão de opressores contra oprimidos.
Inclusive, no ranking de autores mais citados no Scholar Google, Foucault se encontra em primeiríssimo lugar. Além disso, é quase impossível hoje em dia no Brasil cursar uma faculdade de história, letras, direito ou filosofia sem ter contato com alguma obra desse aclamado pensador francês.
Apesar de seu falecimento em 1984, suas ideias continuam ressonando entre os pseudo-intelectuais de esquerda, sendo ele considerado um dos mais importantes nomes das ciências sociais da França. Foucault, não muito diferente dos intelectuais marxistas da velha escola, tinha esse comportamento de estar sempre denunciando as consideradas estruturas de opressão na sociedade. Ao contrário dos marxistas, ele aponta para a onipresença do poder que está implícito em todo tipo de norma, imposição e relação sociais, pois nas instituições tradicionais da sociedade sempre encontramos a manifestação dessas estruturas de opressão. No caso da visão marxista, o poder está concentrado nas mãos dos detentores do capital e da elite que governa, e numa sociedade capitalista, são os donos dos meios de produção os grandes exploradores. Uau, que novidade na visão torta de comunistas...
Mas voltando no tempo, após o fim da segunda guerra mundial, o jovem Michel Foucault era apenas um estudante universitário que estudava em Paris e tinha alguns, para não dizer inúmeros costumes estranhos. Ele decorava seu quarto com imagens de guerras e torturas pintadas por Francisco Goya. Há relatos de alguns comportamentos agressivos de Foucault, tanto com colegas quanto para com ele mesmo, chegando até a tentar suicídio. Após passar por algumas consultas com profissionais médicos, entre eles o psiquiatra Jean Delay, ele fora diagnosticado de que seu quadro depressivo e de tendência suicida era porque ele era um homossexual reprimido pela sociedade francesa. Olha só, quanta opressão! Nada melhor que botar a culpa nos outros por seus próprios problemas. Que tipo de psiquiatra é esse que, ao invés de desafiar o paciente e levá-lo a uma jornada de autoconhecimento, lhe dá um espantalho para projetar a culpa? Só pode ser mais um tipo de marxista frustrado, que ao invés de tratar as pessoas, usa seu consultório para avançar uma agenda anti-humana.
Então Foucault se graduaria em filosofia e psicologia e passaria a dedicar sua vida à carreira acadêmica, chegando a dar aulas em diferentes universidades da Europa. Inclusive, ele se envolveria num escândalo na Polônia, tendo que deixar o país em 1958 por se envolver numa relação sexual com um agente de segurança do país. Mas as polêmicas e escândalos envolvendo comportamentos sexuais promíscuos seriam constantes em sua vida.
Foi graças a sua tese “A história da loucura”, submetida à Universidade de Paris, que ele teria um maior reconhecimento acadêmico. Apesar de algumas críticas que recebeu, foi esse trabalho que lhe propiciou o ingresso nos altos círculos intelectuais. E assim ele passou a ocupar diferentes cargos universitários na França, tendo também uma passagem na Tunísia, e se tornou o mais reverenciado expoente do pós-modernismo. Ele passaria a ser considerado o filósofo do poder, por defender que verdades e valores só tinham lugar nas chamadas formações discursivas. Apenas como discursos fabricados para legitimar o poder daqueles que o detém, numa relação de dominadores e subjugados. Os discursos, valores e verdades passam a ser reescritos pelos detentores do poder.
Ou seja, é a relativização geral de tudo! Discursos e valores são apenas opções que se põe à mesa para conquistar e manter o poder. São as ideias de Maquiavel levadas ao limite, quando se abandona toda a ética, toda a moral, toda a ciência e qualquer verdade. Dessa maneira, Foucault é apenas mais um discípulo de Wittgenstein, que afirmava que os discursos são meros “jogos de linguagem”.
Além de “A história da Loucura”, escreveu também sobre “A História da Sexualidade” e “A História das Prisões”. Foucault dizia que o que lhe interessava era a história dos problemas. Para ele, os problemas se tornam problemas apenas na medida da conveniência do poder exercido em um contexto particular. Assim, segundo sua filosofia, a ideia de que uma conduta sexual ou de qualquer ordem seja condenável por si mesma, é inconcebível no seu sistema de pensamento. Conceitos como o de justiça e outros que são fundamentais para a edificação do senso moral de uma sociedade são relativizados por Foucault. Ele dizia que a noção de justiça apenas funciona no interior da sociedade de classes como reivindicação do lado da classe oprimida, e como justificação do lado da classe opressora. Em sua visão, a noção de natureza humana, de bondade, de justiça, são noções e conceitos que foram formados no interior da nossa civilização com o nosso tipo de saber e nossa forma de filosofia, e que fazem parte do nosso sistema de classe. Portanto, não são verdades a priori em sua visão.
Alguém por favor avisa pra ele que há mais de 2500 anos houve um debate sobre isso na Grécia antiga! É o grande diálogo atribuído a Heráclito e Parmênides. Desse diálogo se conclui que a ciência buscaria o que há de eterno e imutável por trás das coisas visíveis e corruptíveis da natureza. Mas de que isso importa se vai contra os ideais revolucionários? Soterraram a lógica, apagaram a verdade, calaram a ciência.
Após um debate público com Noam Chomsky, em 1971, Chomsky chegou à conclusão, após conhecer as ideias do intelectual francês, que Foucault lhe pareceu um ser completamente sem ética. O linguista americano afirmou que nunca conversou com alguém tão sem moral, tão desapegado de quaisquer valores em sua vida, revelando ter tido uma impressão bastante negativa após o debate. Realmente qualquer contato com um psicopata é perturbador.
O grande objetivo declarado de Foucault, em seus vários escritos, era pretensamente mostrar como funcionava o poder na sociedade e como ele estava presente em diversos aspectos da nossa vida, desde os pequenos detalhes e costumes. Alguns especulam que ele queria que esse sistema de poder se transformasse numa utopia marxista de viés anarquista, remetendo que na filosofia de Foucault o sistema vigente que imperava na sociedade ocidental era um mal. E é devido a esse viés que ele foi se tornando um autor muito respeitado e consagrado entre a oligarquia intelectual parisiense e posteriormente de vários países ocidentais.
Sabe-se também que a origem de Foucault era de uma família bastante rica. E, por incrível que pareça, seu pai, o doutor Paul Foucault, representaria na visão do filho tudo o que Michel mais odiaria da elite francesa burguesa. Foi graças a essa condição familiar que o jovem Michel teve acesso a mais alta educação da época, frequentando institutos jesuítas de elite, e seus pais desejavam que o filho fosse médico. Mas esse era um passado que o intelectual francês não contava a muitas pessoas e não queria que a imprensa descobrisse. No final das contas o problema dele eram questões mal resolvidas com o pai. O que faz lembrar de novo daquele psiquiatra vagabundo...
Em 1953, quando Foucault era um jovem de 27 anos, ele encontrou uma obra que mudaria sua forma de pensar. Era o livro do filósofo alemão Friedrich Nietzsche intitulado “Considerações Contemporâneas”, que contém um ensaio chamado “Dos usos e desvantagens da História para a vida”. Segundo Nietzsche, os acadêmicos tinham distorcido e envenenado nosso senso de como a história deveria ser lida e falada. Ele explica que esses intelectuais induziram aos estudantes que deveríamos todos ler a história de um jeito desinteressado, para aprender o passado por si, como ele aconteceu. Mas essa visão era totalmente rechaçada por Nietzsche, alegando que não havia motivos de apenas aprender o passado por si, sem tirar conhecimentos e lições que melhorassem nossa vida no presente. E foi esse ensaio que teria mudado a mentalidade de Foucault para com a pesquisa histórica, o que o fez se tornar um historiador filosófico. Era alguém que iria voltar para o estudo do passado visando resolver os problemas de seu próprio tempo, obviamente abordando os temas de maneira ideológica.
Em sua famosa obra “Vigiar e Punir”, de 1975, ele aborda as punições estatais ao longo do tempo e suas mudanças. Para o senso comum da sociedade moderna, os sistemas prisionais e punitivos atuais são muito mais humanos do que num longínquo passado das monarquias absolutistas, quando era comum enforcar pessoas. Segundo Foucault, é que o poder no século XX (e isso também equivale a hoje), parece mais gentil, mas na verdade não é bem assim. Enquanto que, no passado, esse poder de punição sendo muito violento, acabava encorajando rebeliões e protestos, e fazia a sociedade pensar sobre o processo de brutalidade e se aquilo era justo.
Em sua pesquisa, Foucault observou que, há séculos atrás, num ato de execução, o corpo de um condenado poderia tornar-se um foco de simpatia e admiração. E, por outro lado, o executor poderia se tornar o alvo da vergonha. Além disso, as execuções públicas geralmente levavam a motins que visavam dar suporte ao prisioneiro. No entanto, a diferença desse sistema de punição moderno é que hoje em dia toda a violência ocorre no privado, sem a presença do público. Assim, não podemos resistir ao sistema prisional e punitivo moderno e ao poder do estado com tanta facilidade.
Se pensarmos por um lado, de fato, seria muito impopular todas as pessoas condenadas quase que diariamente pelos ditadores soviéticos serem enforcadas ou queimadas à luz do dia, na frente do público. E isso equivale a qualquer outra ditadura e sistema de genocídio em massa, afinal, os seguidores do bigodista austríaco não viam os horrores praticados pelos alemães em sua frente. Portanto, a tortura e os métodos de extrema violência, com certeza, seriam pouco tolerados se as pessoas fossem expostas a isso. Isso, aos olhos de Foucault, é que torna o sistema punitivo moderno não menos bárbaro do que os outros do passado. E é importante frisar que nem sempre criminosos reais são condenados, já que há inúmeros casos de erros no sistema judicial moderno. E nem todo considerado inimigo do estado pela elite no poder é de fato um terrorista ou pretende cometer crimes, como podemos ver em diversos países, inclusive aqui.
Assim, ele nos encoraja por um lado a fugir da nossa visão excessivamente positiva em relação ao presente, nos fazendo voltar a ver na história várias formas de fazer as coisas que, muitas vezes, eram melhores que hoje. Seu objetivo não era exclusivamente de estimular uma nostalgia para um passado longínquo, mas que tivéssemos algumas lições de época remotas para que possamos melhorar nossa vida no agora. A história, para Foucault, era apenas um depósito de boas ideias que deveriam ser exploradas, e não mantidas intocadas.
Ao analisar não só o sistema prisional, mas todos os costumes e normas sociais, ele desenvolveu uma visão da disciplina imposta aos nossos corpos pelo governo e suas instituições. E essa incorporação da disciplina em nossa vida faz parte da sua ótica de relações de poder que é constante e onipresente entre dominadores e subjugados. Foucault escreveu:
“A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma aptidão, uma capacidade que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita.”
Enfim, Michel Foucault teve uma enorme influência dentro da corrente filosófica pós-moderna influenciando a esquerda política, tanto entre os acadêmicos quanto entre os ativistas de movimentos como o anarquismo, feminismo, entre outros. Suas ideias são consideradas por muitos como uma alternativa ao marxismo e sua luta de classes, já que ele coloca em seu lugar as diferentes “relações de poder” que ele destacou em suas obras.
No lugar da luta para abolir a tal exploração capitalista (como defendem os comunistas), Foucault coloca o ato da resistência contra a opressão de sistemas de poderes diversos que ele cita em suas obras. Podemos ver que no lugar dos proletariados e sua função revolucionária defendida por Marx e Engels, o intelectual francês traz uma grande variedade de redes de lutas particulares e isoladas contra o poder. Além disso, para substituir o materialismo histórico defendido pelos intelectuais marxistas e seu papel determinante das relações de produção, tem-se agora o poder determinante do discurso imposto pelos dominadores que está presente em todas as áreas da sociedade. Claro que muitos comunistas rejeitam as ideias de Foucault e não abrem mão do marxismo. Mas temos que reconhecer que esse polêmico acadêmico francês tão aclamado em várias universidades, foi fortemente responsável por expandir as ideias de uma nova geração de pensadores do pós-modernismo, formando uma nova esquerda acadêmica e espalhando mais merda no ventilador podre das universidades.

Referências:

PHILOSOPHY - Michel Foucault:
https://www.youtube.com/watch?v=BBJTeNTZtGU
A FACE OCULTA DE MICHEL FOUCAULT:
https://youtu.be/3BLkGxsc5WE
https://www.marxismo.org.br/os-limites-pos-modernos-das-ideias-de-foucault-uma-critica-marxista/