O que são SEASTEADING e o que isso tem a ver com BITCOINHEIROS?

Atualmente, muito se fala sobre uma possível colonização da Lua. Há algum tempo atrás, assunto semelhante foi o da possibilidade de terraformação de Marte para a criação de colônias humanas no planeta vermelho. Mas e os mares? Esqueceram deles?

Talvez você, telespectador, nunca tenha ouvido falar sobre, e o que são as Seasteading. Contudo, se acompanha o canal Ideias Radicais do Raphael Lima, provavelmente já tenha sido introduzido ao tema. Entretanto, para deixarmos todos no mesmo nível de entendimento, comecemos do princípio. Mas, tenha em mente que não cogitamos exaurir o assunto. Queremos apenas trazer uma abordagem introdutória sobre o tema, além de discutirmos a ideia sob a ótica da visão libertária.

Etimologicamente falando, Seasteading é um neologismo criado a partir de duas palavras do idioma inglês. A primeira delas é “sea”, a segunda é a palavra homesteading. A palavra inglesa “sea” significa "mar", já a palavra “homesteading”, pode ser entendida como apropriação original. Por sua vez, pode-se entender o termo apropriação original como ocupação, no sentido jurídico da palavra. Contudo, é importante compreender que estamos aqui utilizando a ideia popular de ocupação, no qual é utilizada distorcidamente pela agenda esquerdista como eufemismo para invasões de propriedade privada alheia.

Ainda em relação ao termo Seasteading, é possível dizer que pode ser usado tanto para descrever a ideia proposta quanto para tratar da coisa propriamente dita. Sendo assim, antecipando o que pode ser uma tendência futura, para evitar a confusão de se trocar um termo pelo outro, podemos dizer que Seasteading, com S maiúsculo, se refere a ideia de habitar em alto-mar de forma permanente e autônoma, como alternativa aos estados atuais.

Por sua vez, tais locais serão formados pelos futuros seasteading, com s minúsculo, sendo aquilo concreto; a tecnologia; ou seja, as estruturas soberanas nas mais diversas formas permanentemente em alto-mar. Ao fim e ao cabo, trata-se da mesma distinção gramatical e conceitual usada para distinguir Direito com “D” maiúsculo de direito com “d” minúsculo, ou Bitcoin com “B” maiúsculo de bitcoin com “b” minúsculo.

Para desenvolver a ideia, em 2008, foi criado o The Seasteading Institute, uma organização sem fins lucrativos visando facilitar o estabelecimento de comunidades tecnológicas, autônomas e viáveis em águas internacionais. Entre alguns de seus membros ilustres estão Patri Friedman, neto de Milton Friedman, um dos fundadores do projeto. O entusiasta em tecnologias e bilionário Peter Thiel também chegou a colaborar com o instituto, segundo ele: “entre o ciberespaço e o espaço sideral, existe a colonização dos oceanos”.

Interessados em abrir o debate sobre o assunto, o The Seasteading Institute já realizou concursos que possibilitavam aos designers e arquitetos submeterem os seus conceitos de seasteadings a um júri formado por arquitetos, cientistas, engenheiros e membros do próprio instituto. O resultado foi que os primeiros seasteadings idealizados pareciam vilas aquáticas. Contando com populações diminutas, cerca de 300 habitantes, abarcando moradias, restaurantes, mercados e escritórios.

O objetivo é que os seastedings funcionassem como uma espécie de ilha startup, um oásis de liberdade no meio do oceano, resolvendo problemas de otimização das cidades em regiões livres de governos e de burocracias vazias e sem sentido. O resultado seriam novas nações, livres das regulações estatais que impedem o desenvolvimento de tarefas e a geração de riqueza. Ainda que por um lado a construção destes locais funcionais no meio do mar possa soar como ficção, megalomania onírica ou utópica, devido aos limites tecnológicos atuais e aos elevados custos necessários; por outro lado, cabe frisar que, atualmente, tais limitações de técnica e preço apenas tornam a construção de um seasteding algo de extrema dificuldade e elevadíssimo custo, o que não significa sua impossibilidade no longo prazo.

Inclusive, muitos espectadores já devem ter ouvido falar de Chad Elwartowski. Ele normalmente é conhecido como um entusiasta de bitcoins, mas em 2019 Chad e sua esposa foram caçados pelo governo da Tailândia. O motivo? Ele colocou em prática a ideia de viver em uma cidade flutuante. Chad construiu sua primeira casa flutuante de fibra de vidro, sem autorização governamental, na costa da Tailândia, país conhecido por ter regras rígidas quanto a questões marítimas. A obra foi desenvolvida pela Ocean Builders, grupo que o empresário foi presidente em 2023. A atitude foi vista como ameaça à segurança nacional, assim como a Ilha das Rosas na Itália. Assim, o casal passou a ser caçado pelas autoridades locais, que incluía, diga-se de passagem, a pena de morte. O resultado foi o mesmo que a Ilha das Rosas, a total obliteração do projeto pelo governo. Entretanto, de lá para cá, novos projetos foram desenvolvidos e as ideias foram ganhando novas formas, como a empresa Arktide, da Flórida, que planeja construir “imóveis acessíveis nos mares” na próxima década.

Dia após dia, a ciência faz novas descobertas. A tecnologia, que nada mais é que a aplicação prática da ciência, avança a passos largos. A título de comparação tecnológica, as máquinas espaciais mais avançadas do passado equivalem, atualmente, a simples calculadoras contemporâneas. Atualmente, vivemos numa época em que foguetes dão ré, sendo pilotados por uma equipe de cientistas em terra. Coisa considerada impossível ou inimaginável até pouquíssimo tempo atrás. É de se esperar que os seasteadings sigam o mesmo caminho de outras indústrias: a princípio, seja algo caro e exclusivo, inviável para a maioria das pessoas, como hoje é, por exemplo, morar em Mônaco. Depois, a tendência é que gradualmente se popularize, sendo cada vez mais acessível e melhor em diversos aspectos: esse foi o caminho da televisão, da internet, dos celulares e dos computadores.

A propósito, cabe aqui um parêntese: o Principado de Mônaco que é, ao mesmo tempo, um dos menores países do mundo e também um dos que possuem maior grau de liberdade econômica, desde o século XIX, já aterrou cerca de 40 hectares nas águas do Mediterrâneo para aumentar o diminuto território que possui na Europa. Trata-se de uma iniciativa que visa atender a um número crescente de pessoas que buscam viver neste reinado. Mônaco não é um caso isolado. Outro célebre exemplo que pode ser citado, até como um dos precursores dos seasteadings, é o da Sereníssima República de Veneza, atual Cidade de Veneza, construída artificialmente no século V em laguna de água salgada e lama, visando ser um lugar seguro contra as investidas dos visigodos e hunos.

Imagine o impacto positivo para a liberdade e para a humanidade que uma dezena ou centena de mini “Mônacos” espalhados pelos sete mares poderia causar? Não por acaso, esta ideia atrai o interesse tanto dos amantes da liberdade quanto dos simpatizantes de tecnologia. Não é difícil imaginar que tal qual Veneza no passado, os seasteadings ao redor do mundo poderiam se tornar paradas importantes de comércio em alto-mar. São inúmeras as possibilidades: os seasteadings poderiam funcionar tanto como armazém de mercadorias, quanto para auxiliar em resgates de navios e aeronaves próximas em situações de perigo em alto-mar.

Provavelmente, conforme a ideia vá ganhando força e a tecnologia se torne possível e acessível, algum país tome a iniciativa de ser o vanguardista que aceitará a instalação de seasteadings numa região próxima à fronteira marítima dele. Fato semelhante ao que aconteceu com El Salvador em relação ao Bitcoin. No passado, tentou-se instalar um seasteading na Polinésia Francesa, mas a iniciativa não se concretizou. Todavia, num exercício especulativo sobre o futuro, pode-se imaginar alguns países candidatos a receber a instalação de uma tecnologia dessas em suas proximidades marítimas.

Um forte candidato poderia ser a Inglaterra, uma vez que já possui relativa liberdade econômica e também conta com iniciativa semelhante em sua fronteira marinha, o Principado de Sealand. Algo relativamente próximo a um seasteading poderia ser instalado próximo à Arábia Saudita, que vem tentando construir iniciativas futuristas como Neom e The Line, e que já convive com pequenas ilhas no entorno, como o Catar e o Bahreim.

Ato contínuo, conforme os benefícios de possuir um seasteading por perto se torne perceptível e incontroverso, possivelmente, surgirão países denominados “seasteadings friendly”. Ou seja, países que são favoráveis à instalação das estruturas soberanas em regiões próximas às suas fronteiras marítimas. Inclusive, podem existir países que tentarão construir os próprios seasteadings para ter acesso ao mar. Seria a construção e instalação de um arquipélago de seasteadings no Oceano Pacífico a solução para o problema do “Mar da Bolívia”? Imagine-se, por exemplo, o impacto positivo que a instalação de vários arquipélagos de seasteadings poderia trazer para a região nordeste do Brasil? A região, que atualmente não possui fronteiras com outros países, poderia fazer fronteira marítima com várias “ilhas-estados”, algo que poderia impulsionar o desenvolvimento da região em diversos níveis, seja do ponto de vista comercial, seja do ponto de vista do intercâmbio de ideias.

Seria uma mudança disruptiva totalmente sem precedentes para a região. Um dentre os muitos impactos positivos hipotéticos poderia ser a alternativa de se utilizar a estrutura do famigerado Estaleiro Atlântico Sul para atender as necessidades estruturais dos seasteadings instalados na costa nordestina. Especulação por especulação, pode ser que um dia exista no mar até mesmo seasteadings construídos para construir outros seasteadings. Estejam os seasteadings num futuro próximo ou num futuro distante, fato é que a liberdade avança, abrindo novas fronteiras: seja no ciberespaço, seja no espaço, seja em terra, seja também no mar.

Referências:

https://nautica.com.br/cidades-flutuantes-tendencia-bilionarios/

https://gizmodo.uol.com.br/projetos-de-cidades-flutuantes-para-quem-quer-se-livrar-do-governo-e-fundar-seu-micro-pais/

https://www.tecmundo.com.br/mobilidade-urbana-smart-cities/125367-paises-startups-flutuantes-comecar-polinesia-francesa.htm?ab=true&

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Seasteading_Institute



https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51604074

https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/08/como-veneza-foi-construida-o-segredo-mais-bem-guardado

https://oglobo.globo.com/mundo/milionarios-de-monaco-buscam-espaco-no-mar-22311913

https://www.diarioimobiliario.pt/Actualidade/Internacional/Superficie-do-Monaco-vai-aumentar-6-hectares