24 Abr. 2024
Escritor: QuintEssência
Revisor: Historiador Libertario
Narrador: QuintEssência
Produtor: Leafar do Leafarverso

TIRADENTES não foi ENFORCADO e não é um HERÓI NACIONAL: será o fim do MITO REPUBLICANO?

Recentemente, por conta do feriado de Tiradentes - celebrado em 21 de abril - voltou a circular uma teoria que foi concebida há algumas décadas, mas que costuma ficar meio esquecida na biografia do famoso alferes. A teoria em questão foi repercutida no Instagram do príncipe-deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança e, em resumo, desmonta por completo o mito criado a respeito de Tiradentes, o pseudo-herói da República do Brasil.

Pois bem: a história oficial nos diz que Tiradentes foi um faz-tudo - cujas atribuições iam desde postos militares, até mesmo ao ofício de dentista, que lhe rendeu o apelido com o qual ele entrou para a História. Seu principal papel para o desenvolvimento da identidade brasileira, porém, está relacionado à sua participação na Inconfidência Mineira.

Essa conspiração, que era uma resposta à derrama, uma pesada cobrança de impostos atrasados por parte da Metrópole, terminou por ser delatada, antes de se tornar uma revolução efetiva. Os envolvidos foram condenados, mas apenas Tiradentes foi executado por sua traição à Coroa. O mártir da Inconfidência foi enforcado, e seu corpo esquartejado foi espalhado por várias cidades, para dar o exemplo para futuros revoltosos.

A esta altura do campeonato, todo mundo já sabe que essa imagem de Tiradentes é uma grande mentira, uma invencionice republicana - isso é praticamente incontestável. Para começo de conversa, Tiradentes não era nem cabeludo, nem barbudo. Por ser militar, ele precisava ter o rosto raspado; e o fato de um de seus pertences na prisão ser uma navalha, usada para o constante ato de se barbear, corrobora esse fato. Sua imagem barbuda foi criada décadas depois de sua morte, com o intuito de relacioná-lo ao próprio Jesus. De fato, um de seus retratos mais famosos, que mostra seu corpo esquartejado, foi concebido para representar um sacrifício sobre um altar. Os membros de seu corpo formam, não por acaso, o mapa da América do Sul.

Foram 12 os inconfidentes condenados - tal como os 12 apóstolos de Cristo. Mas apenas ele, Tiradentes, o Jesus positivista brasileiro, é que foi condenado à morte. Tal como o Cristo dos Evangelhos, o alferes também foi traído pelo Judas brasileiro - Joaquim Silvério dos Reis. De forma geral, essa imagem, construída por conta do golpe militar que instaurou a República no Brasil, visava deificar uma figura até então obscura. Tiradentes, que era um zé-ninguém, foi transformado em um militar patriota que tentou derrubar a Monarquia. Tipo o que os militares positivistas terminaram por fazer, quase 100 anos depois de sua morte.

Porém, e se a história de Tiradentes for ainda mais mentirosa? E se, na verdade, ele sequer tivesse morrido? Quer dizer, sem dúvidas ele já está morto, e há muito tempo. Acontece que existe uma teoria que defende a ideia que Tiradentes não morreu enforcado, em 21 de abril de 1792; mas sim de velhice, aqui mesmo, no Brasil, ao lado de sua família. Pois é. Quem levantou essa possibilidade foi o historiador Marcos Correa, no longínquo ano de 1969.

Mas como foi que ele chegou a essa conclusão? A coisa aconteceu meio que por acaso: o historiador buscava informações sobre José Bonifácio de Andrada e Silva - este sim um herói nacional muito famoso e bem documentado. Correa, então, resolveu conferir cópias das listas de presença da Assembleia Nacional Francesa, de 1793 - no auge da loucura da Revolução. Ok: como esperado, lá estava a assinatura de José Bonifácio. Contudo, ao seu lado estava também a de um tal Antonio Xavier da Silva.

Até aí, nada de mais. Acontece que esse historiador também era formado em grafotecnia, e havia estudado detalhadamente a assinatura de Tiradentes - que, se você se lembra bem de suas aulas de história, se chamava Joaquim José da Silva Xavier. Ao analisar a assinatura de Tiradentes e do tal “Antônio”, Correa percebeu semelhanças impressionantes, e começou a correr atrás dessa história.

Mas, o que teria acontecido para que Tiradentes estivesse na França em 1793, um ano depois de sua suposta morte? Segundo alguns relatos analisados pelo historiador, outro homem condenado à morte, de nome Isidoro de Gouveia, morreu no lugar de Tiradentes, em troca de uma grana dada à sua família, pelos amigos maçons do inconfidente. Para Isidoro, isso não faria diferença, mas seria bom deixar alguma herança para seus parentes… De fato, relatos de algumas testemunhas do enforcamento de Tiradentes dão conta de que ele parecia muito jovem, para alguém de 45 anos.

Quem teria facilitado esse esquema foi o juiz Cruz e Silva, que também era poeta, maçom e amigo dos inconfidentes. Na sequência de sua morte encenada, Tiradentes embarcou para Portugal, junto de sua amante, conhecida como Perpétua Mineira, onde pretendia ficar até que a poeira da Inconfidência baixasse. No fim daquele mesmo ano, Tiradentes teria sido reconhecido pelo desembargador Simão Sardinha, em Lisboa - segundo carta escrita por este próprio.

O famoso líder da Inconfidência Mineira teria permanecido em Portugal até 1806 - ano em que decidiu voltar ao Brasil, junto de sua mulher e filhos. Por aqui, ele abriu uma botica na então Rua dos Latoeiros - hoje Rua Gonçalves Dias, - no Rio de Janeiro. Em 1818, perto de completar 72 anos, Tiradentes finalmente morreu - não de morte matada, por meio de enforcamento, mas sim de morte morrida mesmo. E seu corpo, é claro, não foi esquartejado.

Eu sei: essa história toda parece muito irrealista, não é mesmo? Seria engraçado demais para ser verdade. E, de fato, não tem muita gente disposta a endossar essa teoria. Além disso, existem outras histórias que batem nessa mesma tecla: Tiradentes não foi executado. Uma das mais divertidas afirma que, no momento da execução, a corda se rompeu, e um Tiradentes atordoado caiu embaixo do cadafalso, apenas para ser recolhido por seus amigos, antes que alguém verificasse seu corpo. Na sequência, o cadáver de um indigente qualquer foi esquartejado em seu lugar, enquanto Tiradentes terminou por viver também até os 72 anos, morrendo em São Luís do Maranhão.

Contudo, por mais inverossímeis que essas teorias possam ser, a verdade é que grande parte dos mitos republicanos brasileiros também não é bem documentada. Sua história oficial - ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com os Pais Fundadores dos Estados Unidos - é fundamentada em uma série de conjecturas e relatos extemporâneos, mais empenhados em criar heróis do que em retratar pessoas reais.

A própria história oficial da Inconfidência Mineira está recheada de equívocos e de omissões propositais. Veja, por exemplo, que o citado Joaquim Silvério dos Reis, o Judas Iscariotes da narrativa oficial republicana, era tio-avô de ninguém menos que Duque de Caxias. Acontece que pegaria muito para o famoso marechal - outro herói nacional - ser parente do maior traidor da história brasileira, não é mesmo? Por isso, essa parte de sua biografia foi meio esquecida.

Já o adorado pela esquerda Zumbi dos Palmares, que virou feriado nacional no ano passado, não foi, nem de longe, um mártir da igualdade de direitos e da luta contra a escravidão. Ele próprio, inclusive, tinha seus escravos. Zumbi queria, apenas, seguir a linhagem real de sua família africana, estabelecendo um reino seu em território brasileiro. Zumbi até matou seu próprio tio, inclusive, em sua disputa por poder. Só que retratar Zumbi dessa forma não ajuda muito a narrativa, não é mesmo?

O mesmo pode se dizer de Aleijadinho - que de personagem com apenas razoável valor artístico, foi transformado em Quasímodo do Barroco brasileiro. Ajuda nessa percepção o fato de que a biografia mais conhecida de Aleijadinho, feita em 1848 - três décadas depois de sua morte - foi lançada meros 17 anos depois da publicação de O Corcunda de Notre-Damme. Sua história foi transmutada ao longo das décadas, a fim de transformá-lo em um herói nacionalista - coisa que ele nunca foi. Provavelmente, a maior parte das obras atribuídas a Aleijadinho sequer foi feita por ele. Por outro lado, figuras como Pedro Álvares Cabral e também os bandeirantes tiveram sua importância reduzida na história brasileira. Afinal de contas, eles não servem muito bem à narrativa.

A verdade é que Tiradentes nunca foi tido como um verdadeiro herói - pelo menos até a derrubada da Monarquia. Pelo contrário, ocupando apenas uma nota de rodapé da história brasileira, o alferes sempre foi tratado como um traidor - um verdadeiro baderneiro do 8 de janeiro que, ao invés de ser condenado a 17 anos de prisão, foi condenado à forca. A necessidade do então nascente estado republicano, contudo, fez com que, desta vez, fosse esquartejado não o corpo, mas sim a história de Tiradentes. Sua biografia foi cortada, acrescentada de mentiras e confusões, e recriada, para transformá-lo num verdadeiro ‘deus’ da república.

Isso não deveria nos causar qualquer tipo de espanto. Afinal de contas, o estado vive de fake news - logo ele, que tem lançado de todos os artifícios para, supostamente, controlar a circulação de informações falsas! Desde os brioches de Maria Antonieta, até os motivos que levaram Deodoro da Fonseca a sair de “Viva o Imperador” para “Viva a República” em poucas horas, tudo passa pela disseminação das mais deslavadas mentiras. Isso era verdade no passado, e continua sendo verdade em nossos dias.

Por isso, não se surpreenda com o que tem sido visto por toda parte - a verdade sendo torcida, trucidada, esquartejada pelo próprio aparato estatal. A coisa sempre funcionou dessa forma. A diferença é que, hoje, graças à informação descentralizada e distribuída, nós podemos verificar as mentiras com muito mais celeridade. Ainda assim, o estado não se cansa de tentar nos enganar. Na república brasileira, o corrupto é um herói, o delator é um bandido, o empreiteiro pilantra é um campeão nacional, e o povo revoltado com seu governo é apenas um bando de fascistas.

No fim das contas, não há heróis de verdade na política; portanto, eles precisam ser fabricados pelo sistema para, em seguida, ser deificados pelo regime vigente. Olhando sob esse prisma, a possibilidade de que Tiradentes tenha morrido, na verdade, como dono de botequim no Rio de Janeiro, não é tão absurda assim. Absurdo mesmo é alguém ainda dar credibilidade para as informações circuladas pelo estado.

Referências:

https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/tiradentes-nao-teria-morrido-esquartejado-no-brasil-entenda https://www.otempo.com.br/opiniao/sebastiao-nunes/tiradentes-nao-morreu-na-forca-1.205266 http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=25428&sid=55 https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/em-busca-de-apoio-popular-republica-fez-de-tiradentes-heroi-nacional https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/onde-estao-os-herois/

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