A crise do Banco Master tem tudo para ser uma das piores do Plano Real. Mas quem é o verdadeiro culpado nessa história?
Um dos grandes assuntos do momento - e sim, eles são vários - é a situação do agora bastante famoso Banco Master. Até pouco tempo atrás, essa instituição financeira quase não era conhecida do público em geral - exceto, é claro, pelos seus generosos CDBs, que se tornaram o grande pivô de sua atual crise. Agora, a coisa mudou de figura: o Master se tornou o centro das atenções do mercado financeiro, dividindo espaço até mesmo com o tarifaço de Donald Trump.
O Banco Master captou, ao longo dos últimos anos, a nada modesta quantia de R$ 51 bilhões no mercado privado, através de certificados de depósito bancário - os CDBs. Esses papéis, supostamente, seriam garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Acontece que esse valor representa, na verdade, 47% de todo o montante disponibilizado nesse fundo. Em outras palavras: se o Master quebrar, ele leva, consigo, quase metade do FGC.
Não é difícil imaginar, portanto, a dimensão que a provável crise de liquidez do Banco Master pode tomar. E sim, é bem provável que essa instituição esteja com sérios problemas, uma vez que cerca de 27% de todos os CDBs emitidos pelo Master vencem em até 12 meses. Ou seja: estamos diante de um problema que pode repercutir no mercado, como um todo. O FGC, naturalmente, afirmou que “não há risco de crise sistêmica”. Podemos concluir, portanto, que o risco existe sim - e a coisa toda é realmente muito grave.
Em função de todo esse perigoso cenário, os pauzinhos já começam a ser mexidos, com a costura de um plano para que o Banco de Brasília (BRB) salve o Banco Master, adquirindo mais da metade de sua carteira. Uma vez que o BRB é um banco estatal, com o governo do Distrito Federal controlando 96% de suas ações, é bem provável que estejamos diante de mais um caso de instituição financeira sendo salva pelo pagador de impostos. Ou, em bom português: vai ter dinheiro público envolvido.
Esse cenário, de fato, todos nós já o conhecemos bem - as constantes notícias e reviravoltas do caso estão aí para provar esse ponto. Agora, levando em conta nossa compreensão a respeito da realidade e da economia, podemos fazer uma análise libertária nesse caso para responder à pergunta que dá título a este vídeo: Afinal de contas, quem é o grande culpado pela crise do Banco Master?
A verdade é que essa história tem alguns culpados. O primeiro deles, naturalmente, é o próprio Banco Master. Essa instituição se utilizou de uma estratégia agressiva de captação de recursos, oferecendo CDBs que, em muitos casos, prometiam uma remuneração superior a 140% do CDI - algo perto de 16% ao ano, nos atuais patamares. Essa grana foi usada para investimentos de alto risco - grande parte deles ligados à compra de precatórios.
E é aí, também, que a coisa começa a ficar mais interessante, uma vez que o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, tem uma muito conhecida ligação com o mundo político. É tentador imaginar que exista uma ligação entre o apoio dado pelo mercado financeiro ao atual governo, durante as eleições, e o brutal pagamento de precatórios feito pelo Lula logo na sequência. Parece um claro caso de timing perfeito, mas isso pode ser puramente especulativo.
O que não é especulativo é que Vorcaro tem algum grau de amizade com Ciro Nogueira - político que foi responsável por indicar o atual presidente do Cade. E sim, esse órgão é um dos responsáveis por aprovar ou não a compra do Banco Master pelo BRB. Já o sócio de Vorcaro no Master, Augusto Lima, por sua vez, seria amigo de Rui Costa - o atual ministro da Casa Civil do Lula, - e também de Jaques Wagner - líder do governo no Senado Federal.
E se você acha que essas relações não são questionáveis o suficiente, saiba que o Banco Master contratou, para fins de representação jurídica, o badalado Escritório Barci de Moraes. Não, o nome não é uma coincidência: esse é o escritório onde trabalham a mulher e dois filhos daquele supremo ministro. Suspeito? Claro que não! Você que é desconfiado demais!
Com base nesse histórico, fica difícil passar pano para o Banco Master. Ao que tudo indica, o banco não apenas estava ciente dos riscos que corria, com suas operações mais do que temerárias. Ele, de fato, contava com o apoio do próprio establishment, se a coisa toda viesse abaixo. O FGC garantiria seus depósitos, e o estado salvaria a pele dos responsáveis pela catástrofe.
E chegamos, assim, ao segundo culpado dessa história - o próprio estado. Para este ponto, valeria a pena fazer um vídeo inteiro. Mas podemos resumir essa história dizendo que, para começo de conversa, o estado é mestre em intervir no mercado, gerando distorções econômicas que se tornarão incentivos mais do que errados, ao longo do tempo.
Como o governo é incapaz de honrar seus próprios compromissos, ele precisa se endividar cada vez mais - à ordem de R$ 1 trilhão a mais por ano, no caso do Brasil. Obviamente, isso implica dizer que o estado concorre, com a sociedade produtiva, na disputa pelo capital disponível para ser emprestado. Elevando a demanda por esse dinheiro, o estado também eleva seu custo - que nada mais é do que a taxa de juros. Ou seja: por causa do governo, empresas e indivíduos precisam pagar cada vez mais caro para contrair empréstimos. E isso se aplica também aos bancos: CDBs e outros produtos precisam remunerar cada vez mais, para serem suficientemente atrativos para os investidores.
Só que como o estado possui uma dependência simbiótica com o setor bancário, ele não pode se dar ao luxo de permitir que bancos simplesmente se tornem insolventes. É a cultura do “too big to fail”: no atual arranjo estatal, bancos não podem quebrar. O estado, portanto, fará o diabo para evitar que isso aconteça. Isso, na prática, gera um incentivo extremamente perverso para que as instituições financeiras ajam de formas cada vez mais inconsequentes, confiando na salvação que o estado lhes proverá.
Agora, pare pra pensar que não apenas o estado, mas todo o setor bancário, parece estar muito preocupado com a situação do Banco Master. Isso faz sentido pra você? Imagine que você tem uma padaria e, então, você descobre que um padeiro, seu concorrente, está indo à falência. Você ficaria preocupado com isso, ou ficaria, na verdade, empolgado com a possibilidade de abocanhar uma fatia maior do mercado? Soa no mínimo estranho o desespero que a classe dos banqueiros parece nutrir, no caso do Master…
Porém, como libertários, não podemos deixar de nomear o terceiro culpado nessa história toda. Não, não é suficiente apontar o dedo para banqueiros e para o estado: isso é conveniente demais, mas está longe de conter a totalidade da verdade. O fato é que nada disso teria acontecido se não fosse o erro do último culpado nesse caso: aquele que acreditou nas promessas de altos rendimentos por parte do Banco Master.
Exatamente: quem apostou nesse cassino tem sua culpa no cartório. Fala sério: era evidente que as taxas oferecidas pelo Master eram insustentáveis. Acontece que muita gente embarcou nessa história mesmo assim, confiando na promessa de que o FGC iria salvar a pele de todo mundo. Era como se todos tivessem, assim, uma “licença para especular”, uma aposta arriscada em que o resultado final seria sempre uma vitória. Se o Banco Master honrar seu compromisso, terei recebido um rendimento considerável. Se ele não honrar, o FGC me paga, e eu sigo ganhando.
É claro que alguém pode afirmar que o próprio arranjo formado por banqueiros e estado, ao estabelecer algo como um FGC, incentivou esse comportamento. A verdade, porém, é que cada indivíduo deve ser responsabilizado por suas ações e decisões. O libertarianismo pressupõe, sim, a liberdade, mas sempre unida à responsabilidade. Em outras palavras: você é livre para usar o seu dinheiro como quiser, mas deverá arcar sozinho com as consequências desse uso - sejam elas positivas ou negativas.
Também podemos fazer, aqui, uma menção honrosa a todos os influenciadores digitais da área de finanças que, praticamente, incentivaram as pessoas a fazer investimentos do tipo, justamente seguindo essa lógica: se der ruim, o FGC vai cobrir. Essa gente tem conhecimento suficiente para saber que isso beira a enganação mas, mesmo assim, insistiram no discurso. De qualquer forma, também do ponto de vista libertário, ninguém é obrigado a seguir conselhos de influencer. O melhor mesmo seria ignorar tais conselhos, e o seu dinheiro estaria mais bem protegido…
No fim das contas, estamos diante de uma amálgama de erros que culminaram naquilo que já é, possivelmente, um dos mais grotescos desfechos bancários do Plano Real. O estado, por meio de sua manipulação constante da economia, criou um cenário perfeito para que algo que se assemelha a um scam fosse protagonizado pelo setor bancário - altamente ligado ao governo e, portanto, igualmente mal-intencionado. Já todas as dezenas - talvez centenas - de milhares de pessoas que investiram nesse banco também possuem sua parcela de culpa, pois se deixaram seduzir pelo canto da sereia financeira. Ou, usando um jargão tipicamente brasileiro, acharam que “hihi, levaram vantagem”.
Como último desfecho libertário, o melhor cenário seria deixar o Banco Master afundar, se fosse o caso, com o FGC bancando os CDBs furados, segundo suas próprias normas - afinal de contas, essas são as regras do jogo. Isso, naturalmente, causaria um problema sistêmico: CDBs mais frouxos seriam abandonados, porque o FGC não tem liquidez suficiente para sustentar todo mundo. Pânico bancário, encarecimento de empréstimos e pouca disponibilidade de crédito seriam inevitáveis. Contudo, esse seria o cenário justo: um preço pesado a se pagar, por se confiar num sistema bancário fraudulento e que, desde o seu princípio, está fadado ao fracasso.
https://www.moneytimes.com.br/exclusivo-fgc-descarta-risco-sistemico-em-caso-master-compra-pelo-brb-nao-revolve-todos-os-problemas-rnda/
https://www.estadao.com.br/economia/daniel-vorcaro-master-relacoes-brasilia-petistas-bolsonaristas/?srsltid=AfmBOopcd2jxCVEbvLtcPpnSkv9l81tdzsmNSw9_51gin7WaADpLRL4G