Para defender FISCALIZAÇÃO do PIX, Erika Hilton faz vídeo

Em vídeo onde defende a fiscalização do PIX e a regulamentação das redes sociais, Erika Hilton tenta rebater o fenômeno Nikolas Ferreira, mas falha miseravelmente.

A recente polêmica em torno da fiscalização do Pix expôs, novamente, a fragilidade do governo em lidar com narrativas contrárias, especialmente quando essas narrativas vêm embaladas em vídeos bem produzidos e altamente virais. A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) decidiu adotar uma estratégia semelhante à do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que criticou a medida em um vídeo que rapidamente se tornou um fenômeno nas redes sociais. No entanto, enquanto Nikolas denunciava o impacto negativo da fiscalização para a população mais pobre, Erika saiu em defesa do governo, tentando redirecionar a culpa para a “extrema direita” e rotulando qualquer crítica como parte de uma campanha de desinformação.

No vídeo de Erika, a estética era quase idêntica à de Nikolas: fundo escuro, música de suspense, cortes rápidos e manchetes de jornal projetadas para ilustrar suas falas. A diferença? Enquanto Nikolas usava preto, Erika optou por branco, simbolizando, talvez, uma tentativa de se apresentar como a voz da razão. "Estão mentindo para você", abriu a deputada, antes de defender que o governo nunca cogitou taxar o Pix, culpando a oposição por distorcer os fatos. Segundo Erika, o objetivo da fiscalização seria coibir movimentações financeiras suspeitas e combater crimes financeiros, algo que, segundo ela, a direita estaria tentando esconder para proteger seus interesses.

O vídeo de Nikolas, por outro lado, já havia alcançado números astronômicos de visualizações e provocado um dano significativo à imagem do governo. De acordo com analistas, a peça do deputado ultrapassou marcos históricos, superando publicações de personalidades internacionais e até eventos políticos globais. A repercussão foi tamanha que, no mesmo dia, o governo decidiu recuar e revogar a medida. A leitura do Planalto foi de que a comunicação oficial não seria capaz de competir com a narrativa do deputado, que já dominava o debate público com mais de 300 milhões de visualizações.

A confusão desencadeada pela proposta de fiscalização acendeu um alerta no governo, que rapidamente tentou se rearmar com acusações de "fake news" e "campanha de ódio". Fernando Haddad, ministro da Fazenda, chegou a afirmar que providências criminais seriam tomadas contra aqueles que propagaram informações falsas sobre o tema. A Advocacia-Geral da União acionou a Polícia Federal para investigar memes, vídeos e postagens que, segundo o governo, deturparam a intenção original da medida.

O mais curioso nessa história é como o governo se mostrou incapaz de sustentar sua própria narrativa em um ambiente que antes parecia tão controlado. As redes sociais, antes vistas como ferramentas úteis para a construção de narrativas governamentais, agora são tratadas como o inimigo número um. Erika Hilton, em seu vídeo, chegou a defender a regulamentação das redes para combater o que chamou de "mentira e ódio". Para ela, a extrema direita está usando a população mais carente como escudo, distorcendo informações para fortalecer uma agenda que, segundo ela, sempre odiou os pobres e a democracia.

Enquanto isso, os estrategistas da oposição identificaram rapidamente o "erro estratégico" do governo. Duda Lima, ex-marqueteiro de Jair Bolsonaro, revelou que, embora não tenha participado diretamente do vídeo de Nikolas, percebeu o impacto que a comunicação visual e emocional teria na opinião pública. O vídeo foi simples, direto e conseguiu conectar a indignação da população com um tema que mexe no bolso de todos.

O saldo final para o governo foi desastroso. Uma pesquisa da Quaest revelou que o episódio deixou uma percepção negativa generalizada. "Timing errado, diagnóstico errado e tática errada", resumiu Felipe Nunes, CEO da consultoria. Enquanto isso, o recuo na medida apenas reforçou a impressão de que o governo age de forma impulsiva e desorganizada, sucumbindo facilmente à pressão popular.

No final, o episódio foi mais um capítulo na guerra entre narrativas. O governo, em vez de assumir os erros e corrigir o curso, preferiu atacar os críticos e reforçar o discurso de vitimização. O problema é que, enquanto isso, a confiança do público vai se desgastando, e a oposição continua a dominar o debate com estratégias que o Planalto parece incapaz de neutralizar. O caso do Pix é mais um lembrete de que, no campo das ideias, não basta ter o poder – é preciso saber usá-lo.

Além da polêmica envolvendo a fiscalização do Pix, o governo enfrenta outras crises de imagem que reforçam a percepção de desorganização e desconexão com os problemas reais da população. A famosa "taxa das blusinhas", que impactou diretamente os pequenos empreendedores e consumidores que dependem de compras internacionais de baixo custo, ainda ecoa como um exemplo de decisões impopulares. O aumento na tributação dessas mercadorias, justificado como uma tentativa de combater o contrabando e a sonegação, acabou por atingir em cheio quem mais depende dessas alternativas: os trabalhadores informais e as classes mais baixas.

Somado a isso, as restrições impostas às compras internacionais se juntaram a uma longa lista de medidas que complicam a vida de quem já enfrenta dificuldades para fechar as contas no fim do mês. A narrativa do governo, que insiste em culpar o “capitalismo desregulado” e a “extrema direita” por seus fracassos, perdeu ainda mais força diante do contraste com o próprio descontrole nos gastos públicos.

Enquanto corta o acesso a bens mais baratos e regulamenta ainda mais o cotidiano do cidadão, o governo continua gastando como se houvesse um cheque em branco. Os gastos exagerados em áreas sem retorno visível, aliados a iniciativas questionáveis, como os altos investimentos na TV pública (agora apelidada de “TV 3.0”), criam uma imagem de um governo que cobra demais do povo, mas entrega de menos.

Essas decisões não apenas desanimam o consumidor médio, mas também minam a confiança no governo como um todo. No campo político, figuras como Erika Hilton tentam justificar essas medidas com discursos de proteção à democracia e combate à desinformação, mas, na prática, o eleitor vê apenas mais uma camada de burocracia e custo sendo adicionada ao seu dia a dia.

O governo, por sua vez, continua insistindo que todas essas medidas são necessárias para proteger o país de um suposto caos promovido pela oposição e pelas “big techs”. No entanto, o resultado prático é que, enquanto a base governista se preocupa em controlar narrativas e atacar críticos, a população sente no bolso o impacto de políticas desastrosas e gastos irresponsáveis.

O episódio do Pix, combinado com a "taxa das blusinhas" e o aumento na fiscalização das compras internacionais, expõe a incapacidade do governo de articular uma agenda que realmente beneficie os brasileiros. É como se houvesse uma desconexão completa entre a realidade das ruas e as prioridades do Planalto, que parece mais preocupado em vencer guerras ideológicas do que em resolver os problemas concretos que afetam milhões de pessoas.

Erika Hilton, em sua defesa da fiscalização do Pix e outras transações financeiras, como cartão de crédito, acabou levantando mais perguntas do que respostas. Ela argumenta que a medida seria voltada para coibir crimes financeiros e evitar a sonegação fiscal, mas a realidade prática dessa proposta ainda é cheia de incertezas. A pergunta que fica é: se a Receita Federal já monitora movimentações acima de R$ 2 mil, qual seria a diferença real de ampliar esse limite para R$ 5 mil?

A questão é que, na prática, muitos brasileiros poderiam acabar sendo arrastados para dentro dessa rede de fiscalização, mesmo sem cometerem crimes. No final do ano, isso poderia significar que todas as pessoas com transações acima desse valor cumulativo seriam obrigadas a declarar essas movimentações no Imposto de Renda. Considere, por exemplo, alguém que utiliza o Pix regularmente para pagar contas básicas, como aluguel, escola, ou até mesmo pequenos negócios: seria fácil atingir essa quantia em poucos dias.

E então surge o problema: não declarar para a Receita Federal pode resultar em multas, mas o governo não deixou claro como isso seria administrado. Se alguém não atingisse o valor de R$ 5 mil em um único mês, essa soma seria zerada? Ou ela ficaria acumulando ao longo do ano, para eventualmente gerar uma cobrança futura? Imagine o cenário: você passa o ano inteiro sem monitorar esses valores, e no final descobre que está devendo à Receita Federal por transações feitas ao longo de 12 meses.

Essa falta de clareza cria uma sensação de insegurança jurídica para os cidadãos, especialmente para aqueles que já vivem com dificuldade para lidar com a burocracia tributária no Brasil. Se a fiscalização realmente for tão abrangente quanto parece, estamos falando de um cenário onde até pequenos negócios informais e indivíduos de baixa renda poderiam ser impactados.

No fundo, essa proposta soa menos como uma medida para combater crimes financeiros e mais como uma forma disfarçada de arrecadação. Com o tempo, o que impede o governo de reduzir ainda mais esse limite ou incluir outras categorias de movimentação financeira na malha fina da Receita? O argumento de coibir sonegação fiscal parece pouco convincente quando é o cidadão comum, já sobrecarregado com impostos, que mais uma vez se torna o alvo principal de uma política arbitrária e mal explicada.

Referências:

https://oglobo.globo.com/google/amp/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/post/2025/01/para-defender-lula-erika-hilton-publica-video-no-mesmo-modelo-de-nikolas-ferreira.ghtml