Não é mais segredo para ninguém que acompanha o canal que Getúlio Vargas, apelidado carinhosamente por nós de "gordinho suicida", foi um dos, se não o pior presidente do Brasil. Desde a centralização do poder, que antes permitia maior autonomia dos estados em questões de administração, à doutrinação em massa de milhões de pessoas por meio do MEC, a era Vargas marcou o nosso "Peronismo à brasileira". Fechou a economia nacional para beneficiar poucas empresas e criou um sistema corporativista. Apesar de ter havido uma abertura econômica em certos setores na década de 90, sob Fernando Collor e posteriormente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil continua tendo sua economia pouco produtiva devido à baixa competição, altos impostos e burocracias. Aqui ainda reinam legislações que protegem grandes empresas, como no caso do setor de telecomunicações, devido a barreiras de entrada que dificultam a entrada de novos competidores, mesmo após a privatização feita por FHC.


Em meio a todo esse pandemônio de caos e confusão, estava Monteiro Lobato. Desde a década de 20 ele começou a escrever histórias infantis, que se tornaram grandes épicos, como 'Reinações de Narizinho' e 'O Saci', se tornando futuramente o famoso "Sítio do Pica-pau Amarelo", fazendo grande sucesso nacional. Porém, com o golpe Varguista, iniciou-se um processo de elevação do nacionalismo e criação da identidade nacional - de forma artificial -, que gradualmente removeu identidades locais em favor da ideia de um gigante que estava adormecido, e voltaria finalmente a crescer. Mas o verdadeiro objetivo de Vargas era inflar o estado e seu governo com mais poder e roubar o povo - seu projeto era um socialismo nacionalista baseado na idolatria do ditador gaúcho.

No ano de 1926, o famoso escritor vai aos Estados Unidos como adido comercial consular. Por quatro anos ininterruptos, viu como os Estados Unidos, símbolo máximo da liberdade e prosperidade sob o sistema capitalista, se industrializava, com o aço e petróleo rapidamente se tornando as bases do progresso de tal nação.

De volta ao Brasil, a partir de 1930, Lobato passou a defender a criação de uma siderúrgica no país. O escritor defendia a ideia de que o Brasil deveria explorar e desenvolver seus próprios recursos naturais para fomentar a industrialização e reduzir a dependência de produtos importados. Sua visão incluía não apenas a exploração de petróleo, mas também o desenvolvimento de outras indústrias fundamentais, como a siderurgia, que produz aço e ferro — materiais cruciais para a construção e a indústria em geral. Porém, com pouco interesse da população com relação à siderurgia, Lobato agiu rapidamente, e guiado pelo fervor nacionalista, o escritor cria a "Companhia Petróleos do Brasil" no ano de 1931. A empresa foi autorizada a funcionar pelo decreto 21.415 em 17 de maio de 1932, iniciando a procura por petróleo no antigo campo de Araquá, atualmente chamado de Águas de São Pedro em São Paulo.

Devido à enorme popularidade de Monteiro Lobato, mais da metade das ações de sua empresa, à época uma sociedade anônima, foi adquirida em menos de quatro dias, um grande feito para o escritor visionário. Ele fez isso porque acreditava que a prosperidade americana, baseada no petróleo, aço e energia — motores da industrialização daquele período — poderia ser replicada no Brasil.

Porém, como nada no Brasil é feito de forma livre e espontânea sem a interferência estatal, Lobato precisou lutar arduamente contra a resistência do governo Varguista. Antes da autorização, em 1931, sua empresa chegou a sofrer intervenção federal com as mais absurdas desculpas já inventadas por algum governo brasileiro. Após cinco anos de procura, em 1936, o escritor conseguiu fazer jorrar no Poço de São João o primeiro jato de gás natural do Brasil.

Porém, gás não é petróleo: a propaganda oficial da ditadura Varguista dizia que no Brasil era impossível haver petróleo e, se houvesse, os americanos já teriam descoberto. Esse era um dos argumentos dos corporativistas alinhados a Vargas na época. Isso fez com que Lobato sentisse na pele o que todos nós sabemos hoje: não é fácil desafiar o governo e seus poderes, pois o leviatã estatal possui tanto o monopólio da lei como o da violência. O estado neste caso é a vítima, denunciante, investigador, acusador e juiz que condena o réu, que neste caso era Monteiro Lobato, mas qualquer semelhança com os dias de hoje é simplesmente uma mera coincidência.

Após este caminho, a vida de Lobato foi por água abaixo. Todas as suas iniciativas foram sabotadas sem cessar pelo estado; ele recebia ameaças, e nada do que requeria das autoridades era deferido. Em um ato de desespero, ainda confiando na figura de Getúlio, pois pensava se tratar de um genuíno nacionalista, escreveu uma carta cívica ao ditador, na qual dava conselhos e fazia reclamações contra o Conselho Nacional do Petróleo. O governante fascista, no entanto, nunca a respondeu. Ao invés disso, mandou prendê-lo em 1941, acusando-o de querer desmoralizar o Conselho. E adivinhe? A acusação contra o escritor dizia que ele tinha feito "afirmações destituídas de verdade, inteiramente falsas, com o objetivo evidente de injuriar os poderes públicos". Será que vemos esse tipo de "crime" de opinião nos dias de hoje? Se lembrar de algum caso, deixe nos comentários.

Apesar de esta não ter sido a única carta, Lobato indicava que o Brasil só poderia se tornar verdadeiramente autossuficiente caso investisse no desenvolvimento da indústria petrolífera nacional. Porém, ainda que suas intenções fossem outras, não apenas a prisão de Lobato revela o descaso de Vargas com iniciativas verdadeiramente nacionalistas, mas evidenciam que o mesmo era um político oportunista. O ditador tentou abafar o caso de Lobato com a censura desenfreada e, quando lhe foi conveniente, fundou ele próprio - na década de 50 - uma estatal petrolífera, impedindo qualquer iniciativa privada de ter a oportunidade de desenvolver tal setor no país novamente. O posterior desenvolvimento da Petrobrás a partir daí, é apenas uma consequência dessa história.

Porém, mesmo com todo o aparato estatal em suas mãos, Vargas não conseguiu controlar o acaso. Após passar três meses na cadeia de forma injusta, Lobato ganha um indulto do seu algoz. O que mais o pressionou a tomar essa decisão foi, na verdade, a pressão da opinião pública que se mostrava totalmente contrária às atitudes do tirano, sendo o escritor solto em 17 de junho de 1941. Porém, Vargas decretou a liquidação completa das companhias de Lobato, que à época já estavam auxiliando outros empreendedores de menor escala a também abrirem empresas no setor.

Cansado e desanimado com sua militância nacionalista, Lobato desistiu de vez quando comprovou que a Standard Oil Company, precursora da Exxon, aproveitou do elevado grau de corrupção presente no Brasil para mapear todas as áreas potencialmente petrolíferas no país. Subornando políticos, que já eram corruptos desde sempre, para aceitarem tais acordos, o caminho para o domínio da empresa americana ficou mais fácil. Ainda nos anos 30, empreendedores americanos subornavam dirigentes do Conselho Nacional do Petróleo, novamente evidenciando que a corrupção no estado brasileiro não é algo novo, mas apenas prova da real natureza estatal e seus incentivos perversos.

Após comprovar tudo isso, Lobato se sentiu enojado, e refugiou-se em suas antigas atividades de escritor infantil e tradutor. Suas últimas palavras quanto ao assunto foram de repugnância e nojo simplesmente ao ouvir qualquer menção ao estado brasileiro. O desafio à cúpula do estado Varguista também teve consequências financeiras. As finanças da família foram levadas à ruína, e muitos tiveram de começar a trabalhar para sobreviver com pouco.

Agora, iremos refletir sobre o que foi falado até agora: em qual momento se notou algum interesse verdadeiro de Getúlio Vargas em, de fato, trazer alguma riqueza real e tangível ao Brasil? Se você está assistindo até este momento, é óbvio que em nenhum momento Vargas realmente se interessou em trazer valor à economia nacional, fomentando a competitividade. Seu processo gradual de parasitagem econômica, desde a violação dos resultados da eleição de 1930 com seu golpe que depôs o então presidente Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes, o presidente eleito, até seu novo golpe em 1937, apenas criou um país atrasado devido à burocracia e estatização da economia. Utilizando-se de boatos e desinformação, e ampliando seus poderes, o governo Vargas nos revelou que tanto agentes da elite governamental quanto o ditador foram responsáveis por destruir qualquer chance de o Brasil atingir graus elevados de riqueza e desenvolvimento.

Apesar de o caso do escritor não ser isolado, ajuda a evidenciar um fato antigo que todo cidadão brasileiro amante de sua pátria sabe: o Brasil enterra seus heróis. Desde o famoso Barão de Mauá até Lobato, diversos outros que lutaram por mais liberdade no Brasil foram afogados pela violência implacável dos ditadores de toga, terno e gravata, que só pensam em seus próprios interesses e projetos de poder. Na verdade, esconde-se uma realidade dura de se engolir: coisas divinas têm a capacidade de criar coisas novas. Porém, o parasita desprovido de virtudes e legitimidade nada cria, apenas se hospeda em organismos saudáveis e procura outros organismos para se hospedar. Assim como a célula saudável que morre devido ao câncer, idêntica é a prática estatal com a sociedade. Nenhuma riqueza ou invenção real foi de fato criada pelo ente governamental, somente tomada, exatamente como foi o caso de Lobato.

Tal luta entre os algozes da humanidade e os heróis desconhecidos acontece desde o início da humanidade. Porém, pela primeira vez em milênios, temos ferramentas que nos permitem lutar de igual para igual contra o estado, desde práticas como o agorismo, até o Bitcoin. Apesar de o processo de enfraquecimento do estado não ter começado hoje, não será amanhã ou semana que vem o término deste processo. É algo conquistado com muita luta, sangue e suor de milhões de inocentes que são violentados todos os dias pelas garras estatais.

Ao contrário da ética estatal, que não apenas destruiu as iniciativas de Lobato, como o colocou na prisão, a ética libertária não apenas permitiria o prolífico escritor poder criar sua empresa, como o encorajaria a fazer tal feito, beneficiando a todos. Tudo isso de forma livre e sem coerção, pois, ao contrário do que prega o dogma estatal, nós entendemos que a riqueza só é gerada através do comércio e a produção eficiente de tais mercadorias, coisa que o estado não faz. A única coisa que o governo sabe fazer de melhor é - assim como o ladrão que usurpa sua carteira - te roubar.

Portanto, não devemos nos preocupar com o fim inevitável do estado, e sim ter a certeza de que, espalhando a mensagem a um número grande o suficiente de indivíduos, o estado não terá nenhuma outra alternativa a não ser tropeçar e cair. Esperamos que, desta vez, o leviatã nunca mais possa se levantar. Portanto, não estamos fazendo o papel de profetas do apocalipse ao afirmar que o fim do estado é inevitável, mas sim um processo natural e feito por todos os indivíduos. Sendo assim, o ancapistão vem aí!

Referências:

Fontes que evidenciam o fato:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/em-1941-monteiro-lobato-foi-preso-por-criticar-o-estado-novo.phtml
https://monteirolobato.com/linha-do-tempo/1940-1944-lobato-na-mira-da-ditadura/#:~:text=Ap%C3%B3s%20passar%20tr%C3%AAs%20meses%20na,proibida%20de%20noticiar%20o%20fato.
https://www.lobato.com.vc/2023/02/em-defesa-do-brasil-lobato-e-preso-por-criticar-getulio-vargas-e-o-estado-novo/
https://oextra.net/434/ha-75-anos-monteiro-lobato-era-preso-pela-ditadura-vargas
https://www.folhadelondrina.com.br/opiniao/monteiro-lobato-o-sr-esta-preso-3227881e.html?d=1
https://causaoperaria.org.br/2021/ha-80-anos-monteiro-lobato-era-preso-por-criticar-o-estado-novo/
https://www.migalhas.com.br/quentes/88683/um-nacionalista-preso-por-delito-contra-a-seguranca-nacional
https://www.facebook.com/jornalnota/photos/a.1395172920517894/4949765441725273/?type=3&paipv=0&eav=AfZevcEdwH6SEeg-kwHEJKIOmMNOH1DNJPC1BlgrItOg6vso9J8DufoTk17E9Zhn_mk&_rdr
https://blogdoeliomar.com/ha-83-anos-o-escritor-paulista-monteiro-lobato-era-preso-por-criticar-torturas-na-ditadura-vargas/

Referência para a empresa de lobato (tem referências dentro da página também):
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Petr%C3%B3leos_do_Brasil