Políticos gastam rios de dinheiro em obras faraônicas, em nome do desenvolvimento econômico. Será que isso funciona? Além do mais, será que eles têm esse direito?
Naturalmente, a maioria das pessoas deseja crescimento econômico. Uma economia que cresce, gera empregos, mais variedade de produtos e menores preços. A qualidade de vida da população sobe, de modo geral, e as pessoas ficam menos dependentes do estado e suas políticas assistencialistas. Tanto que os políticos brigam para dizer quem conseguiu trazer maior crescimento econômico. Quando as coisas vão bem, eles se colocam como responsáveis. Mas quando há recessão, jogam a culpa sobre outras pessoas, ou sobre qualquer fenômeno geopolítico. Será mesmo possível que a política seja um motor de crescimento econômico?
Dizer que uma economia cresceu significa dizer que mais, e melhores, produtos e serviços estão sendo consumidos no mercado do que antes. O pai do Anarcocapitalismo, Murray Rothbard, em sua famosa obra "Homem, Economia e Estado", explicou como o crescimento econômico é gerado. Há algumas formas diferentes disso acontecer. A primeira forma é se achando mais recursos naturais, ou recursos melhores. Por exemplo, se alguém encontrar uma mina de ferro, ou uma reserva de petróleo, teremos mais materiais para usar de matéria-prima. A segunda forma é com um maior número pessoas gerando valor no mercado, ou pessoas cada vez mais produtivas. Mais força de trabalho disponível significa que mais produtos e serviços poderão ser disponibilizados. A terceira forma é com a evolução da tecnologia. Se temos ferramentas melhores, podemos produzir de forma mais eficiente. Por fim, a última forma é pelo alongamento da cadeia de produção. Esta forma é menos intuitiva do que as outras, mas o conceito é simples.
Pense que há duas pessoas que trabalham o dia todo colhendo frutas com as mãos para comer. Em algum momento, sobra um pouco de frutas, e uma dessas pessoas consegue se dedicar a construir varas e escadas de madeira, que vão ajudar a colher os frutos mais altos. A partir desse momento, mais frutas podem ser colhidas do que antes e há crescimento econômico. Repare que a cadeia de produção antes só tinha um passo: a colheita. Agora, ela tem dois: a criação de escadas e varas e a colheita. Então, a habilidade do empreendedor de organizar melhor os recursos disponíveis alonga a cadeia de produção.
Repare que todas as formas de crescimento têm algo em comum. Para encontrar novos recursos naturais, é preciso investimento para fazer buscas. Dificilmente se encontra recursos por acaso, e geralmente tem gente recebendo para fazer este trabalho. Para se ter pessoas mais produtivas, é preciso investimento em educação, capacitação e treinamento - isso, no entanto, não implica em educação formal imposta pelo estado, mas uma educação que atenda as demandas do mercado de trabalho. Para se ter evolução tecnológica, é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento. E para alongar a cadeia de produção, é preciso investimento em inovação ou expansão de negócios. De todas as formas, a palavra-chave é investimento. Este é o caminho para o crescimento econômico. Ele depende que as pessoas abram mão de parte de seu consumo presente, em nome de investir para aumentar seu potencial de consumo futuro.
Desta forma, observamos que qualquer política anti investimento vai colocar amarras no crescimento. Infelizmente, o estado habitualmente faz políticas desse tipo, com protecionismo, regulações, insegurança jurídica e impostos. Além disso, muitas vezes o governo tenta impulsionar a economia através do consumo, aumentando programas de distribuição de renda. Como esperado por quem entende de economia, o único que se consegue é aumentar a inflação.
Mas a principal forma que o Leviatã busca impulsionar a economia é pelo desenvolvimentismo. O governo investe pesado em setores da economia considerados estratégicos, como construção de obras, por exemplo. Assim, ele acredita que numa tacada só, vai mudar a economia de patamar. Naturalmente, nada disso funciona, e, além disso, carrega graves questões éticas. Vamos falar dos dois assuntos.
Políticos adoram exibir suas grandes obras em chamativas inaugurações. É claro que não pode faltar a placa com o nome dos responsáveis gravados, alimentando seus egos e os ajudando em seus planos eleitoreiros. Mas como disse o famoso economista francês, Frédéric Bastiat, isso é apenas o que se vê, mas há tudo o que não se vê. O dinheiro usado para a obra, como sabemos, sai da população. Se a obra custou milhões de reais, isso significa que milhões de reais deixaram de satisfazer a demanda de seus verdadeiros donos. Os políticos vão argumentar que a obra foi para o bem geral, mas este conceito é bem questionável, já que não existe um grande interesse em comum na sociedade em termos de investimento. É claro que alguns vão se beneficiar mais do que outros. Por exemplo, se for construída uma ponte, a construtora vai adorar, e todos os que tiveram o seu trajeto encurtado também. No entanto, esses milhões na mão da população seriam gastos em outros setores. Vamos supor que fossem gastos em alimentos. Assim, no caso exposto aqui, a indústria de alimentos perderia muito mais do que ganharia com a ponte.
Mas será que o livre mercado faria grandes investimentos em infraestrutura por conta própria? Não há porque duvidar disso. A iniciativa privada criou foguetes como vemos no caso da SpaceX e Blue Origin. Ligou os Estados Unidos por todos os lados com ferrovias. Construiu termelétricas e fazendas de energia solar. É perfeitamente natural que se formem fundos de investimento que concentram capital e consigam fazer grandes investimentos de longo prazo. A questão é que o livre mercado tende a fazer grandes obras quando de fato este for o melhor uso dos recursos disponíveis. Diferente do governo que precisa mostrar serviço, mesmo que os custos sejam maiores que o benefício.
Outro problema do desenvolvimentismo é que ele é por natureza ineficiente. O dinheiro recolhido custeia o trabalho de todos os burocratas, antes de chegar a seu fim. É investido de fato bem menos do que foi extorquido da população. Fora isso, sabemos qual é o principal incentivo dos políticos: o jogo político e a reeleição. Desta forma, investimentos que parecem grandiosos, mesmo sem verdadeiros impactos sociais, se tornam atraentes e acabam sendo priorizados. É comum também que a gestão atual tenha pouco interesse em continuar obras da gestão anterior, já que ninguém quer dar capital político para a oposição. Isso causa as conhecidas obras paradas, que começam, mas nunca terminam. E mesmo que os políticos fossem bem intencionados, eles enfrentariam um grande problema ao decidir que investimento é o melhor. Na ausência de livre mercado, não há forma racional de entender como suprir a demanda de milhões de pessoas da melhor maneira. É preciso da interação natural entre oferta e demanda para que os recursos sejam direcionados de forma eficiente.
Outro nefasto problema do desenvolvimentismo é a corrupção. Obras faraônicas são um prato cheio para corruptos em busca de propinas, assim como para empreiteiras que superfaturam suas obras. Quando o dinheiro é privado, o dono está ali do lado fiscalizando, e ele não quer perder seu investimento. Mas, quando o dono do dinheiro é o povo, roubar fica muito mais fácil. O Petrolão esteve aí para confirmar. Outro ponto é o caixa 1 e o caixa 2 em eleições. É até engraçado ver as empreiteiras financiando simultaneamente a campanha do candidato de esquerda e também do candidato adversário, que às vezes se traveste de direita – mas sabemos como funciona esse jogo. Independentemente de quem ganhar a eleição, a boquinha está garantida! A população acha que está escolhendo os políticos que melhor a representam e guiando o futuro do país, enquanto está sendo roubada e enganada.
Com tudo isso, obviamente o crescimento econômico nunca chega. Mas ainda há mais uma artimanha que o Leviatã traz na manga. É o cálculo do Produto Interno Bruto, o famoso PIB. Os gastos do PIB incluem, entre outras coisas, gastos do governo. Isso significa que se o governo torrar dinheiro, o PIB vai crescer. Então ele vai poder se vangloriar de estar melhorando a economia, mesmo que os investimentos, o qual são o verdadeiro motor da economia, não estejam aumentando.
Falamos muito do porquê o desenvolvimentismo não funciona. Mas agora vamos dar um passo atrás e olhar de um ponto de vista filosófico. Será que faz sentido tirar a liberdade das pessoas em nome do desenvolvimento econômico? Seria o crescimento econômico um fim em si?
Muita gente acredita que defensores do livre mercado vão querer crescimento econômico a qualquer custo. Mas isso é uma confusão de conceitos. O capitalismo gerou muita prosperidade no mundo, e por isso as pessoas acreditam que o sistema se trata somente disso. No entanto, o mais importante é a liberdade individual. É verdade que se as pessoas priorizarem a poupança em vez do consumo, e o trabalho em vez do lazer, haverá crescimento. Mas isso é uma escolha de cada um. Ninguém tem o direito de interferir no consumo de alguém em nome de crescimento econômico. Este não pode de forma alguma ser um fim em si mesmo.
De forma ilógica, é comum que os grupos que defendem o desenvolvimentismo também defendam causas ambientais. O ambientalismo tenta frear artificialmente o crescimento econômico para proteger o meio-ambiente. Mas fica nítida a cômoda posição de ambientalistas de países ricos, que já alcançaram uma boa qualidade de vida, e não se incomodam em prejudicar a economia, prejudicando bilhões de pessoas com políticas idiotas.
Portanto, nenhum governo deve interferir na economia, nem para acelerá-la, nem para freá-la. As pessoas devem ter liberdade para usar seus recursos da forma que desejarem. Se você quer desfrutar do consumo e do lazer no presente, ou poupar e trabalhar pensando no futuro, cabe somente a você.
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