O filme “Zona de Interesse” não é apenas um excelente filme. Ele também é uma lição sobre como um homem que vende seu senso de moralidade ao estado é capaz de fazer qualquer tipo de crueldade.
No dia 10 de março, aconteceu a sempre celebrada festa do Oscar - que, neste ano, contou com a participação de filmes bastante interessantes, como o maior vencedor da noite, Oppenheimer. Um dos grandes destaques da noite, contudo, foi o filme “Zona de Interesse” - que já vinha tendo bastante repercussão na mídia especializada. A obra venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - representando o Reino Unido, embora seja falado em alemão e polonês. Além disso, “Zona de Interesse” concorreu em várias outras categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som. Ou seja, trata-se de um filme de gente grande mesmo, e que se tornou uma verdadeira sensação na temporada de prêmios.
De forma geral, pode-se dizer que essa obra é um verdadeiro tapa na cara. Embora seja uma peça de ficção, derivada de um livro de mesmo nome, o filme se baseia em eventos que, além de serem reais, são terríveis, sob vários aspectos. O título da obra se refere à Zona de Interesse do Campo de Concentração de Auschwitz, uma área destinada ao uso de membros da SS nazista, e para atividades econômicas do referido campo, e que utilizavam mão-de-obra escrava. Essa zona de interesse também servia para afastar a população civil local dos horrores que eram cometidos por ali.
A história do filme se foca na figura de Rudolf Franz Ferdinand Höss, famigerado comandante de Auschwitz, na maior parte do tempo em que essa fábrica da morte esteve funcional, bem como de sua família, que vivia nos arredores do campo. Höss nasceu em 1900, num lar católico – seus pais, inclusive, queriam que ele fosse padre. Höss, contudo, preferiu entrar para o exército alemão, tendo, inclusive, participado da Primeira Guerra Mundial.
Em 1922, ele ingressou no Partido Nazista, então em ascenção. No ano seguinte, Höss se envolveu com o assassinato de Walther Kadow, tendo como cúmplice ninguém menos que Martin Bormann, nome forte do futuro Terceiro Reich. Após cumprir pena até 1928, Rudolf foi solto; e, no ano seguinte, casou-se com Hedwig Hensel, com quem teve 5 filhos. Seus filhos, por sinal, receberam nomes homenageando seus superiores - como Adolf e Heinrich, - o que demonstra a devoção que Rudolf tinha ao partido nazista.
Em 1934, já com Hitler no poder, Höss foi aceito nas fileiras da SS, a tropa de elite nazista. Em 1935, passou a servir no campo de concentração de Dachau. Nos anos seguintes, Höss foi promovido a capitão, sendo enviado, desta vez, para o campo de Sachsenhausen. Em 1939, Rudolf passou a integrar a parte militar da SS, a Waffen-SS. Contando com grande experiência em campos de concentração, Höss foi definitivamente enviado para chefiar os trabalhos no campo de Auschwitz, naquele mesmo ano. Destituído do cargo em 1943, voltaria pouco tempo depois, de forma permanente, para o comando do campo, onde exerceria toda sua crueldade até o fim da guerra.
No filme “Zona de Interesse”, vemos ser retratado o dia-a-dia da família de Höss, que vivia a poucos metros do local onde as maiores atrocidades contra a humanidade eram cometidas. Enquanto milhares de pessoas eram mortas em escala industrial, todos os dias, Rudolf, sua esposa e filhos levavam uma vida normal, cuidando do jardim e brincando na piscina de sua casa. Por sinal, sua esposa, Hedwig, era apaixonada pelo local - tanto que, quando Rudolf foi enviado para trabalhar em Berlim, em 1943, sua família permaneceu na casa de Auschwitz.
Com o fim da guerra, e a derrota dos nazistas, Höss se escondeu no norte da Alemanha, em uma fazenda, tentando fugir para a América do Sul - para a Argentina, talvez? O fato é que esse disfarce durou apenas um ano; até que, por fim, Rudolf Höss foi localizado - sendo que sua aliança, que tinha gravados seu nome e o de sua resposta - foi a responsável por denunciar sua identidade. Detido pelos britânicos, Höss foi conduzido aos famosos Julgamentos de Nuremberg.
Depondo em juízo, Rudolf foi responsável por descrever, de forma pormenorizada, suas atividades em Auschwitz. Sob seu comando, 3 milhões de seres humanos foram exterminados - a maior parte, com o uso de gás venenoso. Höss terminou por ser condenado à morte por crimes contra a humanidade, em Nuremberg. Sua sentença foi cumprida, no dia 16 de abril de 1947 - data na qual Höss foi enforcado, na entrada do crematório de Auschwitz.
A história da vida de Rudolf Höss, e o filme “Zona de Interesse”, que trouxe esse personagem da história nazista de volta à tona, nos servem para ensinar uma importante lição. De fato, esse caso nos faz refletir a respeito da obediência cega a ordens que são objetivamente erradas. Höss é lembrado, atualmente, por ter sido um nazista convicto e um funcionário do governo extremamente obediente. Contudo, embora alguns considerem isso um elogio, em outras circunstâncias, tais características se tornam um grande problema, quando estamos falando de um governo criminoso, como o do Terceiro Reich. E qual governo não é?!
A ideia da obediência cega de um homem que é capaz de criar seus filhos ao lado de um campo de extermínio chega a arrepiar. Mas, de forma geral, não é impossível traçarmos paralelos dos nazistas do passado, com diversas pessoas, na atualidade. É bem possível que, hoje, não vejamos mais indivíduos causando a morte de milhões de pessoas, apenas por sua obediência cega ao estado - com uma desonrosa exceção para o senhor Anthony Fauci e a todos os pandemínions que surgiram em 2020. Mas, infelizmente, coisas semelhantes acontecem, em menor escala, a todo momento.
Pense apenas no fiscal que rouba a mercadoria de um vendedor ambulante, porque a lei municipal determina isso. Ou então, no policial que prende um indivíduo por “crime de opinião”, apenas porque certo juiz desprovido de folículos capilares ordenou a prisão. Ou ainda, pense naquele vizinho que denuncia a casa ao lado, por conta de um churrasco familiar feito durante um período de restrições sanitárias. Em nenhum desses casos, as pessoas prejudicadas cometeram crime algum - elas foram, apenas, perseguidas pelo estado.
É claro que, nesses exemplos, os indivíduos que agem a serviço do estado podem dizer: estamos apenas cumprindo ordens. Mas, até que ponto esse tipo de afirmação atenua o mal que é feito? O quanto essa obediência toda exime os praticantes de uma injustiça real de sua culpa? Afinal de contas, o quanto podemos abrir mão de nossa própria consciência, apenas para obedecer e cumprir ordens estatais? A verdade é que as pessoas, com cada vez mais frequência, se comportam como gado, terceirizando até mesmo os seus princípios morais para os políticos. Quando isso acontece, então verdadeiros crimes são perpetrados pelo estado.
E é justamente por isso que esse mesmo estado tentará, a todo custo, corromper nossos padrões morais, nos obrigando, até mesmo pela força, a seguir suas ordens criminosas. Porém, quanto maior é a tirania, maior também se torna o nosso dever de resistir a essas imposições estatais, mantendo firmes nossos princípios. A verdade é que, enquanto o estado não for dono de nossas mentes por completo, nossos corpos não lhe servirão para absolutamente nada.
Infelizmente, contudo, muitos não apenas seguem o estado, de maneira cega: eles realmente gostam de fazer isso. Não tenha dúvidas: não são poucos os indivíduos que usam a lei estatal como válvula de escape para seus instintos criminosos. Não se forma um nazista psicótico apenas escrevendo palavras aleatórias num papel qualquer. É preciso muito mais do que uma lei escrita por políticos para que um indivíduo se torne um Rudolf Höss. Ele precisa, em primeiro lugar, ser realmente maligno. A lei, portanto, é apenas o pretexto, a desculpa necessária, para externalizar toda a sua maldade.
Ainda assim, alguns podem acreditar no arrependimento de Rudolf Höss. O carrasco de Auschwitz teria feito a seguinte confissão, dias antes de sua morte: “Na solidão de minha cela, eu cheguei ao amargo reconhecimento de que pequei gravemente contra a humanidade. Como comandante de Auschwitz, eu fui responsável por executar os planos cruéis do Terceiro Reich para a destruição humana. Ao fazê-lo, infligí feridas terríveis à humanidade. Causei sofrimento indescritível ao povo polonês em particular. Eu pagarei por isso com minha vida. Que o Senhor Deus me perdoe um dia pelo que fiz”. Cabe a você, espectador, fazer seu juízo de valor a respeito dessa confissão.
Contudo, será que a humanidade é mesmo capaz de aprender as lições que a vida de Höss e o filme “Zona Interesse” dão? Talvez, e infelizmente, a resposta para essa pergunta seja NÃO. Com muita frequência ouvimos dizer que a humanidade precisa aprender “a lição do Holocausto” - geralmente, insinuando-se que esse crime brutal não deve ser cometido de novo. Porém, o psicólogo Jordan Peterson diz que a verdadeira lição a ser tirada desse genocídio é: você seria o nazista, você se omitiria, aprovaria ou mesmo participaria da matança de inoventes. E não, você não seria Oskar Schindler, salvando os judeus. Duvida disso? Pois então veja o comportamento de Lula e de seus aliados, hoje, no que se refere a Israel, para ver se a história realmente não se repete.
Acontece que o diretor do filme “Zona de Interesse”, Jonathan Glazer, tem um pensamento bastante semelhante. Veja, por exemplo, o que ele disse, a respeito de sua obra: “Para mim, não é um filme sobre o passado. É sobre o agora, e sobre nós e a nossa semelhança com os perpetradores, não a nossa semelhança com as vítimas”. Não tenha dúvidas: todo aquele que aceita se sujeitar às ordens estatais, sem levar em conta sua moralidade - ou falta dela, - está, na prática, se transformando em um verdadeiro Rudolf Höss. Se esse indivíduo vai comandar um campo de extermínio, ou apenas punir pessoas por irem à praia durante uma pandemia, só as circunstâncias dirão.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_H%C3%B6%C3%9F
A lição do Holocausto (Jordan Peterson)
https://www.facebook.com/watch/?v=4896130987109660