Após registrar um prejuízo de mais de 6 bilhões de reais, o Conselho dos Correios aprovou um empréstimo de 20 bilhões, e se ele não conseguir pagar o empréstimo, quem vai pagar seremos nós
Há momentos em que o estado age de maneira tão descarada, tão desavergonhada, que até quem passou a vida defendendo estatais e burocracias, se não sente vergonha, sente no mínimo um desconforto. O novo empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios, aprovado no último sábado, dia 29 de novembro, é exatamente esse tipo de momento revelador. Assim como no livro “Anatomia do Estado”, de Murray Rothbard, essa atitude dos correios demonstra claramente aquilo que o estado é, e aquilo que ele não é.
O conselho de administração da estatal aprovou a contratação desse empréstimo gigantesco junto a um grupo de bancos formado por Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Banco Safra. No papel, até parece um empréstimo legítimo, um contrato normal entre os bancos e os Correios. Só que na prática, qualquer pessoa que já entendeu o básico do funcionamento do setor público sabe que não existe risco algum para essas instituições, porque, segundo o contrato a ser firmado, a garantia será dada pelo Tesouro Nacional. E quando o Tesouro Nacional entra na história, fica óbvio quem realmente está garantindo tudo isso: o trabalhador, aquele que já entrega quase metade do que ganha ao governo antes mesmo de conseguir colocar comida na mesa.
O que significa isso, traduzido do economês para o português claro? Significa que, se os Correios — uma empresa que já acumula prejuízos e está à beira da falência — não pagarem, quem paga somos nós. E considerando o histórico da estatal, alguém realmente aposta que ela vai honrar essa dívida? Não precisa ser nenhum profeta ou adivinhador pra saber a resposta, basta usar a lógica. É quase uma lei da natureza. Em se tratando de estatais brasileiras, quanto mais se gasta, maior a ineficiência e o prejuízo; quanto maior o prejuízo, mais se pede dinheiro ao estado; e quanto mais se pede, mais o estado entrega — desde que, claro, o dinheiro venha de terceiros.
O cenário atual dos Correios dispensa adjetivos, pois os números falam por si. O prejuízo acumulado só neste ano de 2025 já passa de 6 bilhões. Até o final do ano, ou seja, em pouco mais de um mês, o rombo projetado é de 10 bilhões. Não estamos falando de uma empresa que teve um trimestre ruim, ou que sofreu algum solavanco passageiro. Estamos falando de uma estatal que ficou completamente parada no tempo num período em que o e-commerce explode, a logística privada avança e a descentralização tornou a entrega de encomendas um dos setores mais competitivos da economia. O mundo mudou. A tecnologia mudou. Os consumidores mudaram, e as empresas do setor logístico também. Só os Correios continuam exatamente como sempre foram: lentos, pesados, burocráticos e cada vez mais incapazes de gerar receita suficiente para sequer cobrir seus próprios custos.
Façamos a seguinte reflexão: o que acontece quando uma empresa privada se encontra num estado como esse dos Correios? Ela fecha, é vendida, é reestruturada à força ou simplesmente perde espaço no mercado até desaparecer. Essa é a lógica natural de um sistema que premia eficiência e pune a incompetência. Mas quando se trata de uma estatal, a lógica é invertida. Quanto pior ela se torna, quanto mais perde mercado e eficiência, quanto mais devora seus recursos de maneira ineficaz, mais dinheiro público ela recebe. O mercado funciona a partir de risco. O estado funciona a partir de privilégios garantidos pelo dinheiro roubado do trabalhador. É por isso que os bancos aceitam entrar no negócio: porque sabem que nunca perderão um centavo. O risco não existe para eles. O risco é apenas nosso.
Os responsáveis por elaborar esse plano de contratação de crédito dentro da estatal, usaram a justificativa de que iriam direcionar esse dinheiro para a reestruturação da empresa. Como se alguém acreditasse que mais dinheiro, colocado num buraco que já engoliu dezenas de bilhões ao longo das décadas, fará alguma mágica acontecer. Se dinheiro resolvesse o problema dos Correios, eles já estariam no nível das maiores empresas de logística do planeta. Mas a realidade é simples: estatal não é empresa. Estatal não funciona como empresa. Estatal não tem incentivos, não tem concorrência, não tem pressão do mercado, não tem consequência quando erra. E quando a incompetência gera prejuízos bilionários que fariam qualquer empresa privada falir, ela é recompensada com mais verba, e despeja o custo no colo de gente que não tem a opção de dizer não.
Do ponto de vista libertário, não existe nada mais imoral do que isso. Usar o dinheiro de milhões de pessoas, que não deram seu consentimento, para socorrer uma empresa que não consegue sobreviver sozinha é claramente uma forma de expropriação. Em qualquer outra circunstância, se você pegasse o dinheiro de alguém sem permissão para cobrir um prejuízo que você mesmo causou, isso teria um nome: roubo. Mas quando o estado faz exatamente isso, muda-se o nome. Sai “roubo”. Entra “garantia” do Tesouro Nacional. Entra “reestruturação”. Entra “política pública”. Que mané Tesouro Nacional, esses nomes e instituições inventadas pelo estado não passam de uma maquiagem pra esconder o fato de que eles estão roubando nosso dinheiro e dando para seus amigos viverem no luxo.
E dessa forma seguimos, fingindo que existe diferença entre tomar pela força e “arrecadar”. O mecanismo é o mesmo: ou você paga, ou o estado te perseguirá, te prenderá, e se você resistir a prisão te matará. Não há nenhuma diferença do que o estado faz, para o que um assaltante armado faz com sua vítima, a não ser o fato de que o assaltante ao menos é honesto em dizer que está te roubando, e não tenta moralizar o assalto chamando de “garantia do Tesouro Nacional”. Nessa tal garantia dada pelo estado com o nosso dinheiro, não há contrato voluntário, não há adesão espontânea, não há escolha real. Existe apenas coerção.
Se o Brasil fosse um país minimamente sério, esse debate nem existiria. Os Correios já teriam sido privatizados há anos. Ou fechados de uma vez, permitindo que empresas eficientes fizessem aquilo que elas já sabem fazer: entregar encomendas de forma rápida, barata e inovadora. A economia ganharia. Os consumidores ganhariam. Os trabalhadores ganhariam. Mas, claro, isso significaria acabar com milhares de cargos que servem de moeda política. Significaria reduzir o poder do governo. Significaria tirar das mãos de burocratas a capacidade de gerir bilhões alheios sem qualquer pressão de resultado. E isso, para o estado, é inadmissível.
A situação revela também como o governo trata o cidadão: não como alguém que tem direitos, mas como alguém que tem obrigações eternas. Obrigações de pagar. De financiar. De sustentar. De cobrir prejuízos criados por aqueles que nunca terão que arcar com as consequências.
Enquanto isso, a esquerda — sempre pronta para defender qualquer estatal que sirva como cabide — continua esperneando e dizendo que “empresa pública é essencial”, que “o povo depende”, que “privatizar é entregar patrimônio”. Mas basta olhar para a realidade: onde quer que ponham a mão, o resultado é sempre o mesmo. Burocracia, atraso e rombo nas contas. É natural que, independentemente do espectro político de quem está no poder, estatais tendem à ineficiência e ao prejuízo. Mas a esquerda parece ter uma habilidade peculiar, quase sobrenatural, de falir rapidamente tudo o que tocam. E, quando falem, a conta é jogada para cima da população como se fosse a coisa mais justa do mundo.
A verdade é que o caso dos Correios expõe, de forma didática, aquilo que muitos brasileiros ainda fingem não enxergar: estatais não conseguem acompanhar a evolução do mercado. O governo sempre vai sacrificar o gado pagador de impostos para salvar seus aliados e manter privilégios. A lógica estatal é a lógica do desperdício, não da eficiência. E quanto mais dinheiro se coloca ali dentro, mais dinheiro é preciso colocar depois.
E por essa e outras tantas situações absurdas, que os libertários afirmam categoricamente: imposto é roubo. Sempre foi, e sempre será. E agora, mais uma vez, seremos roubados para financiar uma empresa falida, que não deveria existir, que já provou não ter capacidade de competir e que só continua viva porque o estado se recusa a deixá-la morrer.
O empréstimo aos Correios não é apenas um erro econômico. É uma declaração aberta de que o governo continuará sacrificando quem produz para manter estruturas que não servem a ninguém além dos próprios burocratas. É mais um capítulo da história brasileira em que trabalhadores pagam por escolhas que não fizeram, por dívidas que não contraíram e por fracassos que não cometeram.
E enquanto essa lógica não for rompida, nada mudará. O estado continuará salvando seus amigos. E nós continuaremos pagando a conta.
https://revistaoeste.com/economia/correios-emprestimo-garantido-uniao/