GOVERNO reduz R$4 no SALÁRIO MÍNIMO para 2026

Não se enganem, o salário mínimo irá aumentar, mas quatro reais a menos do que o esperado anteriormente.

O noticiário comemora o “ganho real” do salário mínimo e trata como grande conquista o fato de o piso nacional subir de 1.518 para algo em torno de 1.627 reais em 2026, com alta prevista de cerca de 7% nominal. A mudança de quatro reais na projeção, noticiada pela mídia mainstream, é vendida como prudência fiscal, já que a inflação recuou um pouco. Só que nada disso toca no problema central. A própria existência de um piso nacional obrigatório é a raiz do problema com sua intervenção estatal profundamente equivocada, que destrói empregos, distorce toda a estrutura de preços e amplia, de forma direta e indireta, a base monetária e os gastos do governo.​

O mecanismo começa pela indexação. No Brasil, o salário mínimo não é só o piso de quem trabalha com carteira assinada, mas também é a âncora de uma vasta rede de benefícios. Aposentadorias, pensões do INSS, Benefício de Prestação Continuada, seguro‑desemprego, abono salarial e uma série de programas sociais usam o salário mínimo como referência. Sempre que o governo anuncia um aumento, não está somente mexendo no holerite de quem ganha pouco, mas está disparando, de uma vez, um aumento automático em dezenas de milhões de benefícios pagos pelo setor público.​

É justamente isso que a própria burocracia admite. Textos de consultorias previdenciárias e do Senado mostram, sem rodeios, que cada reajuste do salário mínimo tem impacto bilionário nas contas públicas porque corrige aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais. Estimativas recentes falam em impacto superior a 80 bilhões de reais para um ciclo de reajustes até 2026, e em algo como 400 milhões de reais em despesa extra para cada real acrescido ao valor do mínimo. Em linguagem simples, cada vez que o governo mexe uns “troquinhos” a mais no piso, ele assume uma conta gigantesca para o futuro.​

E como que isso vira expansão de base monetária? Primeiro, pelo lado fiscal. O governo financia esses aumentos com mais endividamento e mais arrecadação, em vez de cortar privilégios e encolher o estado. A dívida pública maior precisa ser rolada à taxa de juros que dependem da confiança na trajetória fiscal. Quando a despesa obrigatória cresce, o tesouro emite mais títulos. O Banco Central, para manter o sistema respirando, gerencia liquidez comprando e vendendo esses papéis e modulando compulsórios. Em economias como a brasileira, com histórico inflacionário crônico, isso tende a pressionar a expansão de agregados monetários como M2. Vale ressaltar que ela cresce sistematicamente acima do PIB há anos, segundo séries do próprio BC.​ Trocando em miúdos, o governo expande a base monetária com os milhares de benefícios, e o BaCen enxuga aumentando a SELIC. Lembrando que estamos analisando tudo isso pelo olhar da economia liberal, e não pela austríaca, a qual é mais simples e vê o governo como produtor de inflação e Robin Hood às avessas, roubando do pobre e dando para os amigos do rei.

Em segundo lugar, vem o canal de custos. Ao elevar por decreto o custo mínimo da mão de obra, o governo força empresas de baixa produtividade a decidir entre três alternativas: demitir, informalizar ou repassar o aumento para os preços. Não por acaso, o Brasil convive com taxas de informalidade na casa de 40% da força de trabalho, como mostram as pesquisas do IBGE, e com um desemprego que insiste em se manter alto mesmo em ciclos de crescimento. Pequenos comércios, construção civil, serviços pessoais e boa parte do agronegócio simplesmente não conseguem absorver todo mundo ao piso oficial. Assim, quem fica de fora não aparece nas estatísticas de salário mínimo, mas sente o efeito direto no bolso, afinal, fica sem emprego ou leva a vida fazendo bico, e ainda tem que pagar mais caro pelos produtos.​

Diversos estudos internacionais corroboram esse efeito. Pesquisas divulgadas pela Cato Institute, análises do Banco Mundial e relatórios da OCDE mostram que aumentos artificiais no piso salarial prejudicam especialmente jovens, trabalhadores de baixa qualificação e regiões mais pobres, nas quais a produtividade média é muito inferior à dos grandes centros. Mesmo quando o emprego agregado não cai imediatamente, o ajuste vem em forma de menor contratação futura, automatização acelerada e substituição de mão de obra pouco qualificada por processos com mais intensividade de capital.​

No Brasil, a distorção é amplificada porque o piso nacional é fixado sem considerar as enormes diferenças regionais de custo de vida e produtividade. O que pode parecer razoável para o contratante em São Paulo é proibitivo em cidades pequenas do Norte e do Nordeste. Quando o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2026 prevê 1.631 reais como referência, depois ajustado para 1.627 com base na inflação e no crescimento do PIB, está impondo o mesmo valor ao pequeno comércio do interior do Maranhão e a uma grande indústria do ABC paulista. Isso não é proteção social, mas planejamento central travestido de “justiça”.​

A vinculação do salário mínimo a uma fórmula que inclui inflação passada (INPC) e crescimento do PIB, com ganho real limitado a 2,5% acima da inflação pelo arcabouço fiscal, é vendida como responsabilidade. Na prática, essa regra institucionaliza um piso crescendo de forma quase automática, perpetuando o aumento da despesa obrigatória e, portanto, a pressão permanente para mais impostos, mais dívida e mais base monetária no longo prazo. Mesmo quando o governo “reduz a projeção” em quatro reais, como fez agora, a estrutura permanece intocada. O estado continua dizendo quanto vale, no mínimo, a hora do trabalho de milhões de pessoas, e continua amarrando a si próprio a obrigação de pagar esse valor em inúmeros benefícios.​

Enquanto isso, a retórica oficial fala em “reduzir gastos com aposentadorias, pensões e outros benefícios” quando projeta um mínimo ligeiramente menor, como se o problema estivesse somente no valor absoluto e não no modelo em si. A própria Gazeta do Povo destaca que a queda na projeção é usada pelo Ministério do Planejamento como argumento para um alívio marginal nas contas, sem tocar no fato de que qualquer aumento ainda dispara uma onda de correções automáticas em cascata. Sites especializados em contabilidade e previdência repetem a ladainha de que tudo isso “beneficia o trabalhador e o aposentado”, enquanto admitem que todos os cálculos de benefícios estão indexados ao piso.​

O ponto libertário óbvio é que não existe almoço grátis. O salário mínimo não cria riqueza, somente redistribui, na marra, um custo maior para quem produz, concentrando desemprego nos mais fracos e espalhando inflação por toda a sociedade. Ao atrelar programas sociais, previdência e até limites de crédito a esse piso, o estado brasileiro transforma o salário mínimo em uma bomba inflacionária e fiscal recorrente, que tem de ser compensada com mais intervenção, mais tributo e mais manipulação monetária.​ Em vez de permitir que empregadores e empregados negociem livremente, de acordo com produtividade, região, setor e realidade de cada um, o governo insiste em usar o salário mínimo como ferramenta de marketing político. Anuncia aumentos com conferência de imprensa, posa ao lado de centrais sindicais e diz ter “valorizado o trabalhador”, ao mesmo tempo em que empurra para o desemprego silencioso milhões de brasileiros que ficam simplesmente caros demais para a estrutura engessada que ele próprio criou.​

O resultado é esse teatro anual: projeções de 1.631, revisadas para 1.627, com promessas de 1.721 em 2027, 1.819 em 2028 e 1.903 em 2029, todas ligeiramente ajustadas para caber no arcabouço fiscal sem nunca questionar o dogma do piso nacional obrigatório. Enquanto isso, a base monetária se expande para sustentar uma máquina de benefícios indexados. Os preços sobem, a moeda perde poder de compra, e o trabalhador que o estado diz proteger descobre, na prática, que continua sem emprego formal, com cesta básica cara e com menos liberdade para decidir quanto vale o próprio trabalho. Qualquer pessoa com um nível de QI 83 consegue perceber que isso não favorece ninguém, mas obviamente o governo, como sempre, quer pagar de bonzinho. Como diz o velho ditado: me engana que eu gosto!

Referências:

https://www.infomoney.com.br/politica/governo-revisa-previsao-e-salario-minimo-projetado-para-2026-cai-para-r-1-627/
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/governo-reduz-projecao-do-salario-minimo-para-1627/
https://alertagov.com.br/2025/11/reajuste-do-salario-minimo-2026-o-que-muda-para-trabalhadores-e-aposentados-do-inss/
https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/11/30/governo-reduz-projecao-do-salario-minimo-de-2026-para-r-1627.ghtml
https://www.berwangeradvogados.adv.br/novo-salario-minimo-altera-aposentadorias-e-beneficios-do-inss-em-2026
https://www.martinscaspary.adv.br/novo-salario-minimo-altera-aposentadorias-e-beneficios-do-inss-em-2026
https://www.berwangeradvogados.adv.br/novo-salario-minimo-altera-aposentadorias-e-beneficios-do-inss-em-2026
https://www.gcnoticias.com.br/economia/veja-reajuste-previsto-para-o-salario-minimo-em-2026-e-para-as-aposentadorias-do-inss/227636592
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2025/08/29/governo-projeta-crescimento-de-2-5-em-2026-e-salario-minimo-de-r-1.631
https://www.contabeis.com.br/noticias/74095/governo-recua-e-reduz-projecao-do-salario-minimo-de-2026/
https://www.camara.leg.br/noticias/1150837-governo-encaminha-projeto-da-ldo-de-2026-que-preve-salario-minimo-de-r-1-630/