Quando burocratas controlam a aviação, pessoas incompetentes são colocadas em cargos importantes, e as vidas das pessoas são colocadas em grande risco.
Um Boeing 737-8 MAX da Gol com 109 pessoas a bordo quase protagonizou uma tragédia no Aeroporto do Galeão quando colidiu com uma picape de manutenção durante a decolagem na noite de 11 de fevereiro de 2025. O relatório final do Cenipa, publicado recentemente, revelou uma sequência assustadora de falhas da torre de controle, que é mantida pelo governo, incluindo "desatenção", "cultura grupal permissiva" e uso de celulares durante operações críticas. O controlador de tráfego aéreo liberou a decolagem sem verificar se a pista estava livre, enquanto o supervisor estava mexendo no celular ao invés de supervisionar as operações. Apenas a habilidade excepcional dos pilotos, que conseguiram desviar do veículo a menos de 200 metros de distância, evitou uma catástrofe que poderia ter matado mais de 100 pessoas.
O caso expõe os problemas da gestão estatal da aviação civil brasileira. Enquanto companhias aéreas privadas investem pesadamente em segurança, porque suas reputações e lucros dependem disso, a infraestrutura aeroportuária controlada pelo governo opera com padrões relaxados que colocam vidas em risco. O relatório do Cenipa fala em "clima de informalidade excessiva" e "comportamentos incompatíveis com a segurança operacional", eufemismos burocráticos para dizer que os funcionários públicos estavam fazendo corpo mole no trabalho enquanto centenas de vidas dependiam de sua atenção. Mais um exemplo de serviço que é muito importante para ser deixado na mão do estado.
A cronologia do incidente é aterrorizante. Às 22h08, o Boeing inicia a decolagem. Às 22h08min17s, o veículo de manutenção informa que vai deixar a pista, mas não sai. Às 22h08min32s, acontece a colisão a cerca de 300 km/h. Os pilotos só conseguiram ver o obstáculo quando estavam a 185 metros de distância, já em alta velocidade. Foi questão de segundos entre a vida e a morte de 109 pessoas. E tudo porque um controlador não fez seu trabalho básico de verificar se a pista estava livre antes de autorizar a decolagem.
Mas o mais revoltante é que isso não foi um acidente isolado, mas o resultado previsível de uma "cultura grupal permissiva" que se instalou na torre de controle. O próprio controlador admitiu ter sentido um "rebaixamento de atenção" por causa do ambiente descontraído. O supervisor disse que já havia terminado o turno mas continuava na torre "finalizando anotações", ou seja, fazendo hora extra informal enquanto mexia no celular durante operações críticas.
O incidente no Galeão não é apenas sobre um quase acidente, que por pouco não ceifou centenas de vidas. É sobre como a gestão estatal de infraestrutura crítica coloca toda a sociedade em risco. A aviação civil é um setor onde não existe margem para erro. Um único deslize pode resultar em centenas de mortes, destruição de equipamentos que custam centenas de milhões de reais, e abalo na confiança do sistema de transporte aéreo como um todo. Quando essa responsabilidade fica nas mãos de burocratas que não têm incentivos reais para manter padrões de excelência, o resultado é exatamente o que vimos no Galeão.
O relatório menciona que a torre de controle do Galeão tinha "pontos cegos" causados por vegetação e cadeiras mal posicionadas. Isso é inacreditável. Estamos falando de um dos principais aeroportos do país, que movimenta milhões de passageiros por ano, e a infraestrutura básica de segurança é comprometida por problemas que poderiam ser resolvidos com uma poda de árvores e cadeiras ajustáveis. Mas como não há pressão competitiva, esses problemas óbvios simplesmente são ignorados, até que quase causem uma tragédia.
Os danos potenciais vão muito além das 109 vidas que estavam em risco naquele voo específico. Acidentes aéreos destroem a confiança no sistema de aviação civil, afetam o turismo, prejudicam a economia, geram traumas psicológicos em familiares e sobreviventes. Essa verdade pode ser observada com a desconfiança geral que muitos cidadãos possuem atualmente na aviação civil. Se aquele Boeing tivesse explodido na pista, as consequências econômicas e sociais se estenderiam por anos. Companhias aéreas perderiam passageiros, o aeroporto seria fechado para investigações, seguradoras aumentariam prêmios, investidores fugiriam do setor.
Mas talvez o dano mais grave seja a normalização da incompetência. Quando incidentes como esse são tratados como "falhas de processo" em vez de negligência criminosa, a mensagem que se passa é que tudo bem ser relaxado com a segurança, desde que ninguém morra. Isso cria um ambiente no qual padrões de excelência são vistos como exagero, e a mediocridade é aceita como normal. O próprio fato de o relatório do Cenipa "não ter caráter punitivo" é parte do problema. Claro que investigações técnicas devem focar em prevenir futuros acidentes, mas quando não há consequências pessoais para quem coloca vidas em risco por negligência, a prevenção se torna ineficaz. As pessoas só mudam de comportamento quando há incentivos reais para mudança.
Do ponto de vista libertário, a solução para os problemas da aviação civil brasileira é a privatização completa de aeroportos e controle de tráfego aéreo. A gestão estatal de infraestrutura crítica é incompatível com os padrões de segurança e eficiência que a sociedade moderna exige. Quando vidas humanas dependem de decisões tomadas em frações de segundo, não podemos nos dar ao luxo de ter funcionários públicos desmotivados mexendo no celular durante operações críticas.
A privatização criaria incentivos reais para manter os mais altos padrões de segurança. Empresas privadas que operassem aeroportos e torres de controle teriam sua reputação e viabilidade financeira diretamente ligadas à segurança das operações. Um acidente grave destruiria a empresa, então haveria motivação real para investir em treinamento, tecnologia e procedimentos rigorosos. Controladores de tráfego aéreo que trabalhassem para empresas privadas saberiam que seu emprego dependeria de performance impecável, e que erros grosseiros como esses não teriam espaço.
A concorrência entre aeroportos privados levaria a uma corrida por inovação e excelência. Companhias aéreas escolheriam operar em aeroportos com melhor infraestrutura e histórico de segurança. Passageiros prefeririam voar por aeroportos conhecidos pela eficiência e confiabilidade. Essa pressão competitiva forçaria investimentos constantes em melhorias. Empresas privadas também teriam flexibilidade para implementar soluções inovadoras rapidamente. Se um aeroporto privado identificasse pontos cegos na torre de controle, poderia resolver o problema imediatamente, sem esperar aprovação de comitês burocráticos ou licitações demoradas. Se precisasse de equipamentos mais modernos, compraria no mercado. Se tivesse funcionários incompetentes, os demitiria e contrataria melhores.
O argumento comum contra a privatização da aviação é que segurança é "responsabilidade do estado" e não pode ser deixada para o mercado. Mas essa visão ignora que os países com aviação civil mais segura do mundo têm ampla participação privada. Nos Estados Unidos, muitos aeroportos são operados por empresas privadas sob concessão, inclusive os operadores de torre. Na Europa, a maioria dos grandes aeroportos foi privatizada. E esses países têm índices de segurança muito superiores aos do Brasil.
A regulamentação viria de certificações oferecidas por corporações dedicadas a esse tipo de atividade, focadas em estabelecer padrões técnicos e de segurança, não em operar diretamente a infraestrutura. Agências reguladoras independentes fiscalizariam o cumprimento das normas, mas a operação ficaria com empresas que têm incentivos reais para fazer tudo certo. Outro benefício da privatização seria a responsabilização real por falhas. Se um controlador de empresa privada causasse um acidente por negligência, tanto ele quanto a empresa enfrentariam consequências severas como demissão, processos judiciais e indenizações milionárias. Isso criaria uma cultura de responsabilidade que é impossível no setor público, onde o máximo que acontece são "medidas administrativas" e "treinamentos de reciclagem".
A privatização também eliminaria o problema da falta de investimentos. Aeroportos estatais dependem de orçamentos públicos limitados e prioridades políticas. Aeroportos privados investem seus próprios recursos para maximizar eficiência e atrair clientes. O resultado seria infraestrutura mais moderna, tecnologia de ponta, e padrões operacionais superiores.
O caso do Galeão mostra que não podemos mais aceitar que a segurança da aviação civil dependa da boa vontade de funcionários públicos desmotivados. Quando 109 vidas são salvas apenas pela sorte e habilidade de pilotos, é hora de reconhecer que o sistema atual falhou. A solução libertária de privatização, concorrência e responsabilização real, é a única forma de garantir que tragédias como essa não se repitam.
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/08/06/relatorio-do-cenipa-sobre-colisao-de-aviao-da-gol-com-veiculo-de-servico.ghtml
https://sistema.cenipa.fab.mil.br/cenipa/paginas/relatorios/relatorios.php
https://www.cato.org/tax-budget-bulletin/privatizing-us-airports