Segundo apurado por investigações mais recentes, o PCC seria detentor de grande parte do monopólio do transporte público, concedido pelo estado, na capital paulista. Tudo bancado pelo pagador de impostos paulistano!
O Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa em atividade no Brasil, tem sido objeto de uma atenção cada vez maior, nos últimos tempos. Suas atividades ilícitas têm sido cada vez mais analisadas e esclarecidas, e seu poderio, inclusive dentro das esferas estatais, tem se tornado mais evidente. O que não falta, na verdade, são informações que dão conta do montante movimentado pela organização criminosa - na casa dos bilhões de reais, - sua abrangência territorial e, é claro, de como seus tentáculos se espalham por todo o Brasil.
Alguns dias atrás, nós dedicamos um vídeo, aqui no canal, a essa organização criminosa: “O PCC se tornou um verdadeiro estado, e agora está completamente dividido” - link na descrição. Nesse vídeo, mencionamos diversas formas utilizadas pela facção para lavar o dinheiro oriundo de suas atividades criminosas - coisas que envolvem artistas, fraudes com automóveis, rifas promovidas por influencers e, naturalmente, empresas de fachada. Mas, afinal de contas, que tipo de empresa estaria ligada com o PCC, nesse esquema de lavagem de dinheiro? Bem, investigações conduzidas no estado de São Paulo, a terra natal da facção, podem nos dar uma indicação, nesse sentido.
Segundo as informações apuradas, existe um esquema, iniciado há mais de duas décadas, que liga o PCC a empresas e cooperativas de transporte público na capital paulista. De acordo com as investigações, empresas ligadas a nomes fortes dentro da facção seriam responsáveis por ¼ de todos os passageiros transportados, diariamente, na cidade de São Paulo. E, é claro, esse esquema envolveria muito, muito dinheiro.
De acordo com informações divulgadas pelo Estadão, acredita-se que pelo menos 3 empresas do setor de transporte público paulistano seriam controladas diretamente por membros do PCC, ou então por seus laranjas. As empresas - Transcap, Transunião e UPBus - teriam recebido, apenas no ano passado, um montante de R$ 800 milhões, a título de repasses, por parte da prefeitura. Membros da diretoria dessas organizações são investigados - em alguns casos, há anos - por conta de seu suposto envolvimento com o crime organizado.
As investigações apontam para o surgimento desse esquema, muito bem azeitado, lá por volta do ano 2000. Suspeita-se, portanto, que o transporte público paulistano tenha sido usado, há anos, como lavanderia do dinheiro sujo do PCC. Agora, una essas informações com o sistema adotado por praticamente todos os municípios brasileiros, no que se refere ao transporte público, para você entender como isso é um prato cheio para criminosos de toda espécie. Inclusive, é claro, políticos.
Uma investigação, levada a cabo pelo Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), dois anos atrás, começou a explicitar essa relação mais do que espúria. O alvo dessa operação foi a citada UPBus, cujo capital social teria saltado de R$ 1 milhão para R$ 20 milhões em poucos anos. Nessa época, a justiça autorizou o sequestro de R$ 40 milhões em bens da empresa, por conta dos fortes indícios apurados. Ainda assim, mesmo após o decurso das investigações, a UPBus assinou dois contratos de transporte com a prefeitura de São Paulo.
É claro que os burocratas estatais se defenderam - afinal de contas, essa história é, no mínimo, imoral. Os órgãos estatais responsáveis pela questão do transporte público afirmaram que “acompanham e colaboram com a polícia em tudo que é solicitado e é de seu total interesse que todos os esclarecimentos legais sejam feitos perante as autoridades policiais e à Justiça”. É, tá bom.
Acontece que a coisa não pára, apenas, na lavagem de dinheiro: tem muito crime violento sendo cometido, nesse mesmo contexto. Em 2022, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) fez uma operação, junto da Polícia Civil, que teve por alvo a empresa Transunião. Dois anos antes, um dos diretores da empresa, que acredita-se ser um laranja de um vereador paulistano, esse sim o verdadeiro dono da operação, foi assassinado.
Segundo o que foi apurado pelas investigações, esse tal vereador seria o responsável por lavar o dinheiro sujo do PCC no transporte público da cidade. Já a morte do ex-diretor teria sido motivada pela falta de repasses de dinheiro para a facção criminosa. Ainda segundo as investigações, o seu assassino foi o sujeito que assumiu seu lugar na diretoria da Transunião, após o crime.
Nesse mesmo ano, a terceira empresa citada neste vídeo, a Transcap, também foi alvo de investigação pelo Deic. Um dos sócios da empresa foi formalmente acusado de praticar extorsão e ameaças. Contudo, isso não foi suficiente para impedir que a empresa continuasse suas atividades, tendo, inclusive, assinado mais dois contratos com a prefeitura de São Paulo, desde então.
E sim: essas empresas, e todas as outras, que operam no transporte público na capital paulista, são remuneradas pela prefeitura. Afinal de contas, como explica a própria prefeitura da maior cidade do Brasil: “as empresas são remuneradas de acordo com o serviço realizado, seguindo os termos dos contratos de concessão assinados por meio de licitação pública, conforme determina a legislação”.
Acontece que as passagens de ônibus, em São Paulo, são pesadamente subsidiadas pela máquina municipal. Apenas no ano passado, foram gastos mais de R$ 5 bilhões em subsídios para as empresas de transporte público. Aliás, o que não faltam são projetos de lei, com o objetivo de instituir tarifa zero para todos os moradores da cidade. Isso, de fato, já acontece na Grande São Paulo. Nós já falamos sobre esse caso no vídeo: "PREFEITURA implementa ÔNIBUS DE GRAÇA para os cidadãos de São Caetano do Sul" - link na descrição.
Agora, pare pra pensar que boa parte desses subsídios estão indo, diretamente, para o crime organizado. Empresas, ligadas ao PCC, não servem apenas para lavar dinheiro para os bandidos; elas se tornaram, na prática, uma fonte de recursos para a organização criminosa. Esse é um negócio tão promissor, que o Gaeco - órgão da justiça paulista dedicada ao combate ao crime organizado - afirma que o PCC está expandindo essas suas atividades. Acredita-se que empresas que ocupam concessões de transporte público em outras cidades paulistas - como Campinas, a terceira maior do estado - têm laços diretos com a facção criminosa.
Pois bem, e quem é responsável por permitir que essa situação escandalosa aconteça? Exatamente: ele mesmo, o pai de todos os problemas que afligem a sociedade brasileira - o estado. A verdade é que o atual modelo de transporte público urbano é uma grosseria estatal, sob todos os aspectos. Tudo nesse modelo está errado - desde a ausência de concorrência, até os subsídios dados, com generosidade, às empresas vencedoras dos certames.
E é justamente por isso que verdadeiras máfias se formam, ao redor do transporte público - e não estou falando, apenas, do PCC. De norte a sul do Brasil, podemos encontrar fraudes em licitações, ameaças, às vezes até mesmo assassinatos, envolvendo as concessões públicas, viabilizadas pelo estado. Sim, na maioria dos casos - se não em sua totalidade - as linhas de transporte urbano são cedidas a empresas privadas, por meio de concessão exclusiva. Ou seja, naquele determinado trecho, não pode haver concorrência: o passageiro é obrigado a se submeter àquela empresa, querendo ou não.
Isso, por si só, já é uma verdadeira farra da concentração de mercado. Só que a coisa vai além. Em não raros casos - como o da capital paulista, - as empresas concessionárias ainda recebem subsídios do estado, para cobrar tarifas mais baratas. Ou seja, elas são pagas diretamente pelo governo municipal, para oferecer seu serviço. Quem não ia querer uma mamata dessas, não é mesmo? É por isso, portanto, que o transporte público é alvo recorrente de denúncias de fraudes e corrupção, especialmente nas licitações.
Enquanto isso, justamente por falta de concorrência, o serviço de transporte público é um lixo total. O que vemos, Brasil afora, são ônibus caindo aos pedaços, abarrotados de passageiros, em linhas e horários ruins, com pouca eficiência e inteligência. Sob todos os aspectos, esse é um péssimo sistema para o passageiro. Contudo, ele é ótimo para os donos das empresas e para os políticos, que ganham muita grana nessa história. Como vimos, essa mamata é tão atraente, que até mesmo o crime organizado, especializado no comércio de entorpecentes, quer participar dessa farra.
Veja, portanto, que o estado é o grande promotor dessa situação. É ele quem viabiliza a existência de verdadeiros cartéis no transporte público, responsáveis por praticar crimes e fraudes e que, portanto, se unem cada vez mais aos políticos. Esse setor, inclusive, forma uma verdadeira relação simbiótica com a política municipal. É o velho modelo de uma mão lavando a outra, no estado brasileiro. E é por isso, inclusive, que iniciativas privadas são prontamente rechaçadas pelo sistema. Nós também já tratamos desse tema aqui no canal, no vídeo: “BUSER é CONDENADA em SÃO PAULO por praticar CONCORRÊNCIA DESLEAL” - link na descrição.
Acontece que o problema não se restringe, apenas, ao transtorno para o povo, relacionado aos serviços de péssima qualidade. Se essas denúncias forem mesmo procedentes, o estado está, na prática, usando dinheiro do pagador de impostos para financiar a atividade do PCC, através de empresas de fachada. Num país minimamente decente, essa situação se tornaria um escândalo nacional. Infelizmente, o Brasil é qualquer coisa, menos um país decente.
Por outro lado, o livre mercado resolveria esse problema de forma rápida e eficiente. A ampla concorrência seria capaz de tirar, do mercado, as empresas que gastassem seus recursos com atividades criminosas, privilegiando aquelas que focassem em gastar dinheiro para melhorar seus serviços. A ineficiência das empresas ligadas ao crime as expulsaria do mercado, porque sua fonte de recursos - a escolha do consumidor - iria secar. Hoje, porém, a fonte que irriga essas empresas é, de forma direta ou indireta, o estado. Essa é uma atividade econômica que, portanto, não oferece qualquer risco a seus detentores.
Enquanto houver estado, facções criminosas vão continuar controlando o transporte público - e sabe-se lá quantas outras atividades, - recebendo grana estatal, arrancada via impostos do povo, em contrapartida. Já esse povo - pobre coitado! Vai ter que continuar usando ônibus velhos e com pouca segurança, em trajetos inadequados e ineficientes, para que o crime organizado possa continuar prosperando. O pobre paulistano, ao que tudo indica, utiliza um péssimo serviço de transporte público e ganha, de brinde, uma cidade ainda mais violenta.
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/11/23/gasto-da-prefeitura-de-sp-com-subsidios-as-empresas-de-onibus-chega-a-r-53-bi-e-ja-e-o-maior-da-historia.ghtml
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-06/dez-anos-apos-protestos-prefeitura-de-sp-estuda-adocao-de-passe-livre
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/07/27/empresa-investigada-por-fraudar-licitacao-de-onibus-em-bh-fez-operacao-semelhante-em-governador-valadares.ghtml
"O PCC se tornou um verdadeiro estado, e agora está completamente dividido"
https://www.youtube.com/watch?v=Ec7364Jk5Nk
"PREFEITURA implementa ÔNIBUS DE GRAÇA para os cidadãos de São Caetano do Sul"
https://www.youtube.com/watch?v=tuqhK_VTie4
“BUSER é CONDENADA em SÃO PAULO por praticar CONCORRÊNCIA DESLEAL”
https://www.youtube.com/watch?v=ZRd9Vjzz9e4