LÍDER DO HAMAS MORREU!!! Quem o substituirá?

Embora a notícia da morte do líder do Hamas pareça uma notícia boa pra Israel, isso tem chance de desencadear coisas muito piores...

O governo de Israel anunciou nesta quinta-feira, dia 17, que Yahya Sinwar, líder do grupo terrorista Hamas, foi morto durante uma operação militar na Faixa de Gaza. Sinwar era apontado como um dos principais responsáveis pelos ataques de 7 de outubro do ano passado, que resultaram na morte de 1.200 israelenses, sendo uma figura central e considerado pelo Estado israelense como o “mentor do grupo”. Sinwar não aparecia em público desde os ataques do Hamas (por motivos óbvios) e acreditava-se que ele estava escondido na vasta rede de túneis subterrâneos em Gaza.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, confirmou que Sinwar foi morto por soldados das Forças de Defesa de Israel, com o Exército israelense também confirmando a informação. As operações militares israelenses vêm se concentrando no sul da Faixa de Gaza, com base nas informações de inteligência que indicavam possíveis localizações de líderes importantes do Hamas. Segundo o comunicado, as tropas da 828ª Brigada das FDI haviam identificado e eliminado três terroristas, sendo um deles o próprio Sinwar, com um dedo retirado do cadáver tendo sido usado para a confirmação da identidade, através de exame de DNA.

Nascido em 1962 no sul de Gaza, por ironia, ele cresceu em um campo de refugiados em Khan Younis, tendo mais tarde se tornado uma figura-chave na criação da área militar do Hamas e, posteriormente, formando alianças estratégicas com potências árabes regionais para se tornar líder civil e político. Em 2017, assumiu a liderança política do grupo e se tornou o líder do órgão, segundo o relatório do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Desde 2015, ele era classificado como terrorista global pelo Departamento de Estado dos EUA, além de ter sido sancionado pelo Reino Unido e pela França. Alguns do governo americano acreditam que a morte de Sinwar pode dar a oportunidade para um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Normalmente, novas lideranças que assumem uma situação complicada têm pouca estabilidade e são convencidas mais facilmente a encerrar grandes conflitos para estabilizar seu próprio poder, tal como o alto comando alemão fez ao instaurar a República de Weimar e assinar o Tratado de Versalhes durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de evitar um colapso total do Estado alemão.

Mas, dependendo de quem o suceder, isso pode ter um impacto significativo sobre se o Hamas estaria disposto a retomar negociações com Israel a respeito da suspensão dos combates e da libertação de reféns. Embora o grupo esteja em uma posição cada vez mais fraca, com lideranças sendo eliminadas e perdendo muitos de seus soldados e membros, não se pode subestimar o fanatismo ideológico e religioso do grupo, que deseja permanecer lutando até o fim, com o discurso no começo dos ataques sendo extremista e afirmando querer o desmantelamento do Estado de Israel, transicionando, poucos meses depois, para um discurso de "defesa do povo palestino".

Entre aqueles que podem assumir o comando do Hamas estão o irmão de Sinwar, Mohammed Sinwar, o vice do antigo Sinwar, Khalil Al Hayya, que é um dos principais negociadores do grupo, e Khaled Mashal, um dos fundadores do grupo palestino. Mohammed, além de ser comandante de uma das brigadas do al-Qassam, também era o braço direito de seu irmão, e caso ele assuma o comando do grupo, é de se imaginar uma retaliação agressiva e emocionada, impulsionada pela morte de seu próprio irmão.

Enquanto isso, Khalil Al-Hayya, o antigo vice-líder, vive atualmente em exílio no Catar e é uma autoridade no grupo Hamas desde pelo menos 2006, sendo o segundo no comando até a morte de Sinwar na quarta-feira. Ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato israelense em 2007, quando um ataque aéreo em sua casa em Gaza matou membros de sua família, escapando da morte por não estar no local durante o ataque. Em 2014, ele participou da negociação de um cessar-fogo com Israel e, por isso, algumas pessoas acreditam que, caso ele assuma a liderança, tente fazer um acordo com Israel, o que ainda não é uma possibilidade garantida de que os membros do Hamas aceitariam.

Por último, Khaled Meshal já foi chefe político do Hamas em 1996, dirigindo o grupo do exílio, dois anos depois agentes israelenses injetaram um veneno de ação lenta nele enquanto estava na Jordânia. Ele ficou em coma até Israel fornecer o antídoto como parte de um acordo diplomático com a própria Jordânia. Meshal passou os anos seguintes em vários países árabes, vivendo no Kuwait, Jordânia, Catar e Síria. Ele vive na Turquia desde 2017, quando deixou o cargo de chefe do escritório político e foi sucedido por Ismail Haniyeh, que foi morto em julho deste ano no Irã. Khaled ainda é influente no grupo e considerado uma figura de respeito internamente; porém, possui uma mentalidade antiga e não estaria aberto a negociações como Khalil poderia estar.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que o país vai “perseguir e eliminar” seus inimigos, com a declaração ocorrendo enquanto os militares israelenses analisavam se Sinwar havia sido realmente morto. O ministro escreveu que "Nossos inimigos não podem se esconder. Nós os perseguiremos e eliminaremos”, e de fato, nos últimos meses, muitos dos líderes políticos relacionados ao conflito israelense têm morrido, tanto por ataques diretos quanto por acidentes e causas naturais, tais como o antigo líder do Irã, que morreu em um acidente de helicóptero, ou até mesmo um deputado na Turquia que morreu de ataque cardíaco após afirmar que "Israel sofreria a ira de Allah". A menos que Israel tenha um dispositivo para causar ataques cardíacos à distância, é assustador que essa coincidência tenha ocorrido.

O Estado de Israel, com sua posição no Oriente Médio, tem enfrentado desafios desde sua criação após a Segunda Guerra Mundial, e quase todos os países da região já entraram em conflito com Israel em algum ponto da história. Nas últimas décadas, os países sunitas, como a Arábia Saudita, têm preferido colaborar ou simplesmente ignorar a existência do pequeno país, por ser um conflito diplomático e militar que gasta muitos recursos sem obter resultados.

Mas os países xiitas, como o Irã, têm tomado essa questão mais para si, com apoio ao Hamas no início do conflito e também por verem isso como uma questão ideológica, já que os países árabes veem Israel como uma "nação estrangeira" colonizada por europeus, que supostamente não deveria existir por não ser nativa daquelas terras, além de trazer ideais "ocidentais" para a região e ajudar indiretamente a desestabilizar regimes instáveis como o Iraque, a Síria e o Egito, que no passado também foi invadido e teve uma parte ocupada pelo exército israelense.

Todo esse grande conflito, que dura décadas na região, acontece por causa do conceito equivocado de que estados devem ser criados com base em etnia e ainda quererem impor isso ao seu povo "não padronizado". O próprio conceito de um estado judeu foi planejado em diversos lugares do mundo, indo desde o Alasca e o norte da Manchúria até Kaliningrado e o Levante, onde se instaurou de maneira definitiva e se baseou muito mais nos estados europeus do que nos estados da mesma região.

Não adianta outros países tentarem derrubar o Estado de Israel à força, e muito menos Israel tem planos de converter toda a região ao judaísmo, pois sabe que isso é impossível. Já foram feitas propostas de uma confederação harmoniosa entre a Palestina e Israel para resolver os problemas entre as duas populações, mas o problema é que ambos não querem viver dependendo da decisão consentida um do outro. O melhor que poderia ser feito é uma solução de "estado nenhum", respeitando a região com base na propriedade dos habitantes locais, sem se importar se são árabes ou israelenses.

O Hamas está se desfazendo como um grupo por conta da guerra, e os inúmeros conflitos no Oriente Médio na história moderna não irão acabar enquanto essas organizações se basearem em etnia e nacionalidade para justificar seus crimes, tanto internamente quanto externamente. Resta torcermos para que a visão libertária chegue aos povos daquela região, fazendo com que se dêem conta de que todo Estado é ilegítimo e prejudicial.

Referências:

https://veja.abril.com.br/mundo/quem-era-yahya-sinwar-lider-do-hamas-morto-por-israel/