A economia japonesa já vinha andando sobre uma corda bamba há mais de 30 anos, mas parece que a situação é mais grave do que poderíamos imaginar. Segundo o próprio Primeiro-ministro japonês, a situação do país é pior que a da Grécia, que quebrou em 2010.
Um dos acontecimentos mais simbólicos da falência global do modelo estatal acaba de ter sua confissão oficial — e o mais incrível é que ela veio diretamente da boca de um primeiro-ministro. O premiê do Japão, Fumio Kishida, declarou que a situação fiscal do país está, e aqui usamos as palavras dele, "mais grave do que a da Grécia na crise da dívida soberana". Sim, é isso mesmo que você ouviu: o Japão, a quinta maior economia do mundo, reconhece que está caminhando para um colapso pior do que o da Grécia — aquele mesmo colapso que levou o país ao fundo do poço, com desemprego disparando e uma década inteira de recessão.
Mas calma, que piora. Da mesma forma que Lula queria culpar o banco central por manter uma taxa de juros mais elevada, na tentativa de controlar a inflação, o primeiro-ministro japonês também deu a entender, em sua afirmação, que boa parte da culpa dessa crise é do aumento da taxa de juros do banco central do Japão, que também tenta conter a inflação. Ou seja, o estado imprime moeda causando inflação, e a culpa é de quem tenta controlá-la.
A ironia cruel da situação é que o Japão é o laboratório mais avançado do mundo de tudo aquilo que os estatistas sempre defenderam. Um estado grande, onipresente, intervencionista, com um banco central hiperativo, emitindo moeda como se não houvesse amanhã, fixando juros artificialmente baixos por décadas e criando "estímulos" fiscais para "impulsionar a economia". O resultado disso é um país estagnado economicamente há mais de 30 anos, uma população envelhecida sem perspectivas, e agora, uma dívida impagável.
E aqui está o ponto mais importante, que não pode — de jeito nenhum — passar batido: a falência do Japão é, acima de tudo, a falência do estado. Não do estado japonês apenas, mas do estado enquanto entidade centralizadora da economia, enquanto planejador de longo prazo, enquanto suposto garantidor de estabilidade. Quando até um primeiro-ministro admite que a situação é pior que a da Grécia, é porque a coisa já saiu de controle há muito tempo.
Vamos voltar no tempo para entender como se chegou a esse ponto.
Durante décadas, o Japão se tornou símbolo de uma política monetária "inovadora". Após a explosão de sua bolha imobiliária nos anos 90, o país mergulhou em um ciclo vicioso: juros próximos de zero, endividamento crescente e, claro, um Banco Central (o famoso Banco do Japão) disposto a imprimir moeda sem limite. Surgia então o conceito de "Abenomics", um conjunto de políticas econômicas baseadas em estímulos estatais e expansão da base monetária como solução mágica para qualquer problema.
Resultado? Uma economia zumbi. Empresas que deveriam ter quebrado continuaram vivas graças ao crédito fácil. Investimentos improdutivos foram mantidos artificialmente. A produtividade estagnou. E, ao longo do tempo, os incentivos econômicos foram completamente distorcidos. Tudo isso para manter uma ilusão de estabilidade que, agora, finalmente, está ruindo.
A verdade é que o Banco Central do Japão — assim como todos os bancos centrais — jamais deveria existir. Sua única função prática é servir como braço financeiro do estado, permitindo que governos gastem o que não têm, prometam o que não podem cumprir e, no final, joguem a conta no colo das próximas gerações. O Banco Central não garante estabilidade, como se diz por aí. Ele garante, sim, a sobrevivência do aparato estatal, mesmo quando este já ultrapassou todos os limites do razoável.
Os juros artificialmente baixos praticados pelo Japão por décadas não são uma solução: são um veneno. Quando o preço do dinheiro é manipulado para baixo, o mercado inteiro reage com base em uma mentira. Empreendedores fazem planos de longo prazo com base em uma taxa de juros que não reflete a realidade da escassez de capital. Consumidores são incentivados a gastar em vez de poupar. Dívidas são acumuladas como se fossem ativos. O resultado inevitável é um colapso, mais cedo ou mais tarde.
E não nos enganemos: os bancos centrais são os maiores financiadores de guerras da história moderna. O próprio modelo de endividamento estatal que permite a expansão ilimitada de exércitos e conflitos geopolíticos só existe graças à capacidade que os governos adquiriram de financiar-se por meio da inflação. A Primeira Guerra Mundial? Financiada com impressão de dinheiro. A Segunda Guerra? Idem.
A pergunta libertária aqui é simples: por que a moeda precisa ser controlada pelo estado? Em que momento da história isso se tornou inevitável? A resposta, para quem estuda economia com seriedade, é simples: isso nunca foi necessário. Moeda boa nasce do mercado, da escolha voluntária dos agentes econômicos. O ouro, por exemplo, não foi imposto por decreto: ele foi escolhido naturalmente porque possui características monetárias superiores. Já o iene, o dólar, o real — essas aberrações estatais — só existem porque são forçados por lei. São moedas de curso forçado, impostas com base em coerção, e sustentadas por uma confiança que, como podemos ver agora, está rapidamente se dissolvendo.
O Japão, ao admitir que está pior que a Grécia, presta um serviço involuntário à humanidade: mostra, com todas as letras, que o modelo estatista é insustentável. Não se trata de um erro de cálculo, nem de má gestão. Trata-se da própria natureza do estado: ele é um gastador compulsivo, um criador de dívidas, um destruidor de valor. Sua ferramenta favorita é o Banco Central. Sua consequência inevitável é a falência.
Mas o efeito dominó dessa crise ainda é incalculável. O primeiro da lista é o Japão, mas existem muitos outros países que estão a poucos anos de chegar onde o Japão está hoje, a começar pelos próprios E.U.A. Atualmente, a dívida americana já ultrapassa os 36 trilhões de dólares, ou seja, mais de 120% do PIB do país.
Além disso, o Japão é o segundo maior credor internacional do mundo, ou seja, o governo japonês tem muitos ativos internacionais em sua posse, entre eles, títulos da dívida americana e ações da S&P 500. Se o Japão decidir vender esses ativos pra pagar sua dívida, os E.U.A sofrerão com uma grande queda em suas bolsas e também uma grande desvalorização nos seus títulos de dívida, causando um efeito dominó, já que os E.U.A também teriam que liquidar seus ativos.
E o mais impressionante de tudo é que, mesmo diante do abismo, as soluções propostas continuam sendo as mesmas: mais estímulos fiscais, mais controle estatal. Como se fosse possível resolver o problema da overdose administrando mais droga. Não há aprendizado. Não há humildade. Há apenas a repetição do mesmo ciclo vicioso, agora em sua fase terminal.
Mas, é claro, não poderíamos encerrar esse texto sem falar sobre a responsabilidade individual. Sim, o estado japonês tem culpa. Sim, os banqueiros centrais são coniventes. Mas quem acreditou na estabilidade artificial japonesa durante tanto tempo também tem sua parcela de culpa. Investidores do mundo inteiro compraram títulos da dívida japonesa confiando que "o governo nunca quebra". Compraram essa ficção com olhos bem abertos. Agora, muitos deles terão que arcar com as consequências de sua fé cega.
E não são apenas os grandes investidores. O cidadão comum japonês também participou dessa farsa coletiva. Aceitou viver sob um sistema que trocava estabilidade por liberdade, segurança aparente por endividamento real. Aceitou a mentira do dinheiro fácil, da aposentadoria garantida, do bem-estar estatal financiado por geração espontânea de ienes. Agora, a realidade bate à porta.
Em uma sociedade verdadeiramente livre, a moeda não seria imposta por burocratas. Ela emergiria do mercado, da preferência dos indivíduos, da confiança voluntária. Sem banco central, sem curso forçado, sem manipulação estatal. E mais importante: sem a possibilidade de financiar déficits infinitos, guerras globais e projetos lunáticos que só existem porque o dinheiro estatal transforma tudo em ilusão.
A crise fiscal do Japão, portanto, é muito mais do que uma manchete. É uma prova de que o castelo de cartas estatal finalmente começou a desmoronar. O mais trágico é que, mesmo assim, haverá quem defenda mais do mesmo. Haverá quem acredite que precisamos de "mais estado". Mas nós, que já entendemos a lógica perversa desse sistema, sabemos exatamente qual seria o caminho.
Deixar o estado falir. Deixar o Banco Central desaparecer. Deixar a moeda voltar ao seu dono legítimo: o povo. E que o Japão sirva, pelo menos, como o último grande aviso antes do colapso final do estatismo global.
Se você acha que isso é exagero, apenas lembre-se das palavras do próprio primeiro-ministro japonês. Não foi um libertário quem disse. Não foi um economista austríaco. Foi o chefe de governo de um dos países mais desenvolvidos do planeta. E ele mesmo disse: estamos piores do que a Grécia.
Se isso não é o fim do jogo, é, no mínimo, o apito do juiz.
Aos libertários, cabe apenas observar — e construir a alternativa. Porque quando esse sistema ruir de vez, alguém vai precisar estar pronto com algo melhor.
https://br.investing.com/news/economy-news/primeiroministro-do-japao-diz-que-situacao-fiscal-do-pais-e-pior-que-a-da-grecia-1556055