Altos SALÁRIOS da área de TI não são suficientes para a GERAÇÃO Z, pois preferem a área da MEDICINA

Salários altos pagos em dólar no setor de TI não são o suficiente para chamar a atenção da geração Z, que prefere a área da medicina, mesmo que isso signifique um salário menor e sem home office.

A área de Tecnologia da Informação, que sempre foi a queridinha da geração Z, está perdendo o posto de mais procurada entre os nascidos durante os anos de 1997 e 2012. Segundo o estudo da National Society of High School Scholars, a área da saúde está ganhando mais adeptos que a TI. O estudo ouviu 10 mil jovens americanos que apontaram como áreas de maior interesse profissional a medicina, seguida da assistência médica. Muitos poderiam dizer que essa mudança é apenas nos Estados Unidos, contudo, indica uma alteração na tendência aqui na terra da banânia também.
Dado Schneider, mestre e doutor em comunicação, palestrante e estudioso sobre a geração Z, salienta que o período recente do tranca tudo foi um evento canônico para os jovens. Ele destacou que, quando essa geração estava prestes a começar a trabalhar, o lockdown global surgiu, fazendo com que muitos deles ficassem confinados em suas casas, com aulas remotas, sem acesso àquela vida acadêmica clássica de frequentar as faculdades presencialmente. Muitos fizeram estágios online e não tiveram uma iniciação profissional semelhante à das gerações anteriores. Isso criou uma visão negativa em relação à tecnologia, visto que essa geração é a que mais apresenta problemas associados a relacionamentos pessoais.
Além disso, segundo Schneider, como são a primeira geração totalmente inserida no contexto tecnológico, diferente das anteriores, não possuem tanto encantamento pela área, como a geração X ou Y. O conselheiro da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Cosme Peres, diz que o estudo também aponta que os GenZ têm uma visão negativa quando o assunto é a inteligência artificial. Para os membros dessa geração, a IA é vista como um inimigo, um concorrente que tomará suas vagas daqui a algum tempo, em vez de uma ferramenta que ajude a melhorar o desempenho e a produtividade. Isso é algo normal, afinal, vemos em vários lugares, seja na internet, seja na mídia mainstream, que os trabalhadores atuais deverão se adequar para não perder seus postos de trabalho para as IAs.
O diretor de TI da Gi Group Holding, José Roberto Paim Neto, nos recorda que se observarmos o Brasil, considerando todas as gerações e seus históricos, a área da saúde sempre foi a mais procurada, mas que a busca pela TI também continua aumentando. Nívia Kércia, de 30 anos, consequentemente da geração Y, diz ser apaixonada pelas duas áreas citadas. Portanto, ao invés de seguir apenas uma delas, decidiu tomar um caminho que englobasse as duas. A técnica de enfermagem, está buscando a graduação na área, mas antes havia feito um curso na área de Tecnologia da Informação, que ainda planeja finalizar. No futuro, acredita na possibilidade de trabalhar com tecnologia voltada para a área da saúde.
Segundo as empresas brasileiras, quase metade delas sofrem um pouco, ou em grande medida, para encontrar trabalhadores com as habilidades digitais avançadas que necessitam. De acordo com pesquisas feitas no setor, alguns especialistas tem sidos muito procurados. Entre eles, podemos citar: especialista em Marketing Digital e Estratégia, em Inteligência Artificial e Machine Learning, Analistas de Segurança da Informação e de Dados, Desenvolvedor de Software e Aplicativos, Modelador de Banco de Dados e Redes e Engenheiro de Robótica são áreas que terão uma maior busca nos próximos anos. Mas isso não é nada novo no Brasil. Segundo o próprio Paim Neto, a carência de profissionais na área de TI é uma realidade desde a década de 1990, quando as pesquisas sobre este assunto começaram a ser feitas. Ele pontua que uma das dificuldades de se trabalhar com qualquer tipo de tecnologia, principalmente a TI, é sua constante e intensa atualização. Os profissionais precisam acompanhar essas mudanças para se manterem competitivos no mercado, criando um ambiente de intenso estresse. Além disso, o inglês continua sendo uma grande barreira para o profissional brasileiro, que não tem formação bilíngue, já que o domínio desta segunda língua é uma obrigatoriedade para entrar no mercado.
Sobre a saúde daqueles que trabalham com TI, há um certo consenso de que não é das melhores. Muitos profissionais da área da tecnologia, passam vários dias trabalhando horas a fio, inclusive, passando madrugadas acordados para resolver algum problema urgente, sendo muitos os casos de trabalho durante o final de semana. Muitos não têm rotina definida, e a qualidade de vida e tempo para se dedicar ao lazer e a atividade física são diretamente impactados. Inclusive, quem trabalha na área está entre os dez profissionais com propensão para a obesidade, devido ao sedentarismo e ao trabalho intenso influenciarem diretamente na qualidade de vida.
Em relação à área da saúde, o período do fecha tudo e do bichinho da China fez com que os profissionais dessa área fossem altamente requisitados. Inclusive, vimos na grande mídia que aqueles que cuidavam das pessoas eram tratados como heróis. Portanto, a busca por uma área que trouxesse mais propósito, como aquelas que cuidam de vidas, aumentou, mesmo que o retorno financeiro fosse menor. Cuidadores de idosos, enfermeiros, médicos e as demais áreas da medicina alternativa ganharam muito prestígio nesse período.
À primeira vista, o espectador desatento pode acreditar que isso é apenas uma mudança comum e esperada na sociedade, e que desta vez o estado não está interferindo. E ele não poderia estar mais enganado. É verdade que questões geracionais fazem com que as pessoas foquem em uma área em detrimento das demais. A geração X, devido ao boom dos centros urbanos e principalmente do petróleo, viu muitos ingressarem na área de engenharia civil e petrolífera por conta dos novos postos de trabalho que surgiram devido ao pré-sal e ao aumento populacional das cidades, provavelmente fomentado pelos professores do ensino médio. Já a geração Y, que viveu a sua infância assistindo à transformação da sociedade de analógica para digital, viu na área de Tecnologia da Informação sua carreira, novamente fomentada pelos professores e pelas notícias da época. A geração Z, por ter vivido coercitivamente seu início de vida adulta enclausurada em casa, sendo obrigada a utilizar as soluções digitais para obter conhecimento e dinheiro, desenvolveu aversão à tecnologia, e com razão. Muitos, inclusive, perderam entes queridos ou viram a piora da saúde de pais e familiares, não apenas física, mas também psicológica. Fomentados por essa dor, muitos decidem seguir para a área da medicina e enfermagem, buscando ajudá-los caso algo semelhante aconteça.

Mas como o estado está intrincado em nossas vidas e na sociedade, não percebemos que é ele quem conduz boa parte de nossas escolhas. Veja, se não fosse baixado um decreto dos entes estatais para que tudo fosse fechado, é provável que aquele período sombrio que passamos durante o micróbio chinês, não acontecesse. Muitas pessoas não teriam aversão à área da TI e provavelmente não teriam motivos para seguirem a área da saúde, pois não veriam pessoas que amam perecendo sozinhas em casa.
Além disso, muitas pessoas decidem estudar medicina, pois acreditam ser uma das áreas que ainda é possível ganhar dinheiro de maneira honesta sem necessitar vender a alma para o seu chefe. Com a economia em frangalhos e o aumento da base monetária, é comum que as pessoas não tenham uma perspectiva de melhora em suas vidas. É comum percebermos no senso comum, que ou elas trabalham 12 horas por dia, sete dias na semana para conseguirem melhorar o padrão de vida, ou trabalham 44 horas semanais, e não vislumbram uma melhoria considerável. Sabendo disso, preferem gastar alguns anos de cursinho para conseguirem entrar em uma faculdade, e assim, se tornarem médicos, ganhando bem e tendo qualidade de vida.
Agora, outro ponto que poucos conseguem entender é que os incentivos do governo são para que se abra cada vez mais novas faculdades de medicina e enfermagem. Veja, se um empresário for abrir um campus em uma cidade universitária, por que abriria um curso qualquer que custasse mil e poucos reais por mês, se poder abrir um curso de medicina, com mensalidades de dez mil reais, podendo oferecer cadeiras para estudantes do FIES e do PROUNI? Você tem a garantia que receberá suas mensalidades, pois serão pagas pelo governo, e ainda por cima terá benefícios fiscais. Não somente isso, mas mesmo que se crie um financiamento para seus alunos, o que seria mais fácil, um médico pagar um financiamento de meio milhão de reais, ou uma formada em administração pagando um financiamento de cinquenta mil? Isso pode ser corroborado com o fato de que o Brasil tem 2,81 médicos por mil habitantes. Isso é mais do que os Estados Unidos, Japão e China. Quando olhamos para enfermeiros, o Brasil tem 4 profissionais para cada mil habitantes, três vezes mais do que a média mundial. Ou seja, estamos formando cada vez mais profissionais da área médica, tudo por conta das implicações provocadas pelos governos, seja pelos incentivos, seja por reação a uma realidade distópica.
Enfim, a geração Z está tomando um rumo diferente das demais gerações, devido principalmente às ações do governo. Entretanto, não foram apenas eles que tomaram essa decisão enviesada pelo Estado. Assim foi com a geração Y, influenciada pela ideia de que a área de TI sempre tem vagas em aberto. E foi assim com a geração X, com a ideia de que sempre haverá casas para construir e poços de petróleo para cavar. No fim, todos fomos impactados por mandos e desmandos governamentais. Só não podemos culpar essa geração pelos problemas do mundo; afinal, se estamos em tempos difíceis, adivinhem quem foram os homens fracos que causaram isso.


Referências:

https://www.baguete.com.br/noticias/12/06/2012/ti-uma-profissao-que-engorda

https://tribunaonline.com.br/economia/salarios-sobem-mas-jovens-fogem-de-trabalho-na-area-de-tecnologia-193772?_=amp

https://portal.cfm.org.br/noticias/aumento-recorde-no-total-de-medicos-no-pais-pode-ser-cenario-de-risco-para-a-assistencia-avalia-conselho-federal-de-medicina

https://www.scielo.br/j/tes/a/YHp7xfrKdXhV3HbwwmJC9Ty/?lang=pt