Rússia expande CENSURA: buscar informação é CRIME na era do CONTROLE DIGITAL

Buscar informações independentes virou crime na Rússia. A censura chegou ao ponto de criminalizar a simples curiosidade — o Estado russo instala um controle digital total sobre o acesso à verdade e as informações disponíveis à população

A Rússia de hoje é, em essência, uma vitrine do que acontece quando o Estado toma controle absoluto dos meios de comunicação, da tecnologia e até da própria curiosidade humana. Não se trata mais apenas de censurar discursos incômodos ou "radicais". Em 2025, o governo russo decidiu criminalizar a simples busca por informações consideradas "extremistas". Não precisa mais dizer nada, não precisa publicar, compartilhar, nem se manifestar. Basta pesquisar, pensar, querer saber, e o aparato estatal te enquadra.

Parece distópico, mas é real. Essa medida recente é só mais uma peça do quebra-cabeça repressivo que Putin vem montando desde que tomou conta do Estado e silenciou dissidentes ao longo das últimas duas décadas. E é uma demonstração brutal do que acontece quando o Estado se coloca como senhor inquestionável da moralidade, verdade e segurança. Ninguém que valorize a liberdade individual deveria se surpreender: quando o monopólio da força se alia ao monopólio da informação, o indivíduo desaparece. A censura não é um acidente de percurso, nem um exagero pontual — ela é a consequência lógica de um Estado que se sente ameaçado por qualquer forma de autonomia individual, não permitindo nem sequer a liberdade de pensamento.

O novo projeto de lei, que deve entrar em vigor em setembro de 2025, prevê multas e sanções a quem "acessar deliberadamente" sites ou conteúdos associados a organizações consideradas "extremistas", um termo amplamente vago que inclui desde grupos supostamente neonazistas até fundações anticorrupção ou canais de Telegram independentes. O problema, é claro, é que quem decide o que é "extremismo" é o próprio governo. E como em qualquer regime que detém o monopólio da interpretação moral, o rótulo de "extremista" se aplica a qualquer um que ouse questionar os absurdos estatais.

(Sugestão de Pausa)

A repressão já não exige mais atos públicos de dissenso. Não é preciso marchar, escrever, ou mesmo curtir uma publicação crítica. Só o ato de buscar informação já serve como prova de desvio. A intenção por si só se tornou crime, escancarando ainda mais a lógica orwelliana que o Kremlin adota não como distopia a ser evitada, mas como manual de governo. E isso vai além do que se vê nos modelos ocidentais de censura. No Ocidente, o que se pode dizer ou pensar muitas vezes depende do humor de algum juiz careca que se vê como defensor da verdade absoluta, possuidor de inteligência divina e moral inquestionável. Ainda assim, existe ao menos um verniz de legalidade, alguma encenação institucional, pelo menos por enquanto. Na Rússia, nem isso. O aparato censório é direto, vertical e impiedoso. É o Estado em sua forma mais crua, decidindo o que pode ser dito, pensado ou até buscado, sem precisar fingir neutralidade.

A cereja do bolo é o novo aplicativo "Max", anunciado como substituto estatal para todas as plataformas ocidentais banidas — Whatsapp, Facebook, Instagram e afins. O Max será obrigatório em todos os celulares vendidos no país a partir de setembro. Vai reunir mensagens, redes sociais, pagamentos, documentos oficiais, agendamento médico, tudo. Parece conveniente, mas é essencialmente uma coleira digital. Com o Max instalado, o Estado russo terá acesso total a padrões de comportamento digital, localização, dados financeiros e interações pessoais. É o sonho molhado de qualquer ditador: um app que centraliza toda a vida do indíviduo, pronto para ser escaneado por agências estatais a qualquer momento. A desculpa é sempre a mesma: soberania nacional, proteção contra o extremismo, estabilidade. Mas o resultado é previsível: o fim da soberania individual.

Não se trata apenas de opressão política; é um ataque direto ao livre mercado de ideias, à livre associação e ao direito de propriedade. Proibir o uso de VPNs, por exemplo, significa criminalizar o próprio ato de se proteger da polícia do pensamento. O cidadão que busca privacidade agora é tratado como terrorista em potencial. É o padrão dos autoritários: não basta o controle do poder, é preciso eliminar qualquer ideia que o questione.

Num mundo anarcocapitalista, em que indivíduos negociam livremente suas relações, produtos, serviços e informação, essa escalada de censura seria impensável. O Estado russo está tentando fazer exatamente o contrário: impedir qualquer forma de mercado, qualquer iniciativa privada de informar, comunicar ou proteger a própria mente. O objetivo não é só calar, mas sim moldar, controlar, domesticar. Putin e sua cúpula sabem exatamente o que estão fazendo. Em plena era da informação descentralizada, entenderam que não dá mais pra controlar a narrativa sem controlar o trágefo. O inimigo já não é só o jornal independente ou o repórter destemido — é o cidadão curioso, com acesso direto a fontes fora do script estatal. E por isso, ele precisa ser vigiado.

(Sugestão de Pausa)

A essa altura, ninguém mais se engana: a Rússia é uma ditadura escancarada. O que antes era disfarçado de "democracia sob medida", virou abertamente um regime onde o Estado define o que é verdade, quem pode falar, o que pode ser buscado e até o que pode ser pensado. Mas o ponto não é mais só a Rússia; o que vemos lá é só o estágio avançado de um processo que já está em curso aqui. O discurso muda, as justificativas se adaptam, mas o impulso centralizador é o mesmo. Hoje, na Rússia, o crime é buscar informação. No Ocidente, ainda se finge legalidade, ainda se joga o teatro da "liberdade responsável", mas juízes, políticos e burocratas já se sentem confortáveis para decidir o que é aceitável, o que é discurso de ódio, o que é "ameaça à democracia". A moldura é mais polida, mas o conteúdo é o mesmo: controle.

Não adianta esperar resistência vinda de dentro. Reforma política, alternância de poder, "instituições funcionando" — tudo isso é encenação, quando até o debate já é proibido. Num sistema onde questionar virou crime, qualquer saída precisa vir de fora dele. A resistência real é descentralizada. Ela nasce da criptografia, do uso estratégico da tecnologia fora do alcance estatal, da informação circulando livremente, fora das mãos do Estado. Vem do software livre, da desobediência pacífica, da recusa do povo a se submeter a um governo que vê a liberdade individual como um problema a ser resolvido.

Enquanto essa estrutura autoritária não ruir por completo, a Rússia continua avançando, de forma firme e implacável, na construção de uma distopia digital cada vez mais aprofundada. Não se trata mais da caricatura soviética clássica, com tanques nas ruas e discursos inflamados que ainda permitiam alguma forma de confronto aberto. Hoje, a opressão se apresenta de maneira silenciosa, quase técnica, mas não menos brutal em seus efeitos. Num ambiente assim, o simples ato da curiosidade, da busca por informação fora do que o Leviatã determina, passou a ser considerado um delito grave.

(Sugestão de Pausa)

Essa realidade deveria soar como um sinal de alerta imediato para o Ocidente, não movido por um sentimento de piedade ou solidariedade paternalista com o povo russo, que sofre sob a opressão estatal, mas por uma preocupação concreta com a preservação da liberdade individual e a resistência ao avanço autoritário. O impulso para controlar rigidamente o fluxo da informação não é uma falha ou um desvio momentâneo do sistema político moscovita; pelo contrário, é uma expressão clara e natural do funcionamento do Estado quando este não encontra nenhum freio efetivo à sua expansão e concentração de poder.

O que ainda freia a escalada rumo ao controle absoluto são, em muitos casos, formas de resistência institucional, cultural e tecnológica que, embora frágeis, ainda conseguem limitar o poder centralizador do aparato estatal. Quando esses limites desaparecem, o espaço para o pensamento crítico se reduz drasticamente, restringindo o debate e a diversidade de ideias. Sem liberdade para questionar e refletir, o indivíduo perde não só sua autonomia, mas também sua capacidade de agir como agente consciente. É exatamente essa luta pela sobrevivência da mente livre e independente que está em jogo.

Referências:

https://www.thetimes.com/world/russia-ukraine-war/article/putin-moscow-whatsapp-ban-plan-max-app-launch-b789tt6ts?region=global
https://www.dw.com/en/russia-to-crack-down-on-what-it-deems-extremist-content/a-73409136
https://apnews.com/article/russia-putin-internet-censorship-extremist-fab2254716ddd3cd1b765d748e2d176f
https://www.hrw.org/news/2025/07/24/russia-clamps-down-on-online-searches